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Sem apoio do setor privado, Sepultura recorre aos fãs para financiar documentário

"É um público gigantesco e as pessoas do marketing dessas grandes empresas parecem não perceber", lamenta Andreas Kisser

Lucas Reginato Publicado em 11/05/2013, às 10h19

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Galeria – Separações mais conturbadas do rock- Sepultura - Reprodução / Site oficial
Galeria – Separações mais conturbadas do rock- Sepultura - Reprodução / Site oficial

Pela primeira vez o Sepultura será tema de um documentário. Depois de quase 30 anos de história, a banda resolveu abrir as portas para a câmera do diretor Otavio Juliano, que se prontificou a fazer o filme ao descobrir a vontade do grupo. “A nossa proposta era mostrar a banda no presente, mas começamos a abrir o arquivo e encontramos muita coisa”, conta o cineasta, que há três anos já trabalha no projeto.

Mas nem tudo correu como Juliano esperava. O projeto foi aceito por editais da Lei Rouanet, do Ministério da Cultura, e do ProAc, do governo de São Paulo, mas não encontrou empresas interessadas. “O nome Sepultura, ao mesmo tempo que abre muitas portas, porque é um nome conhecido e respeitado, também fecha, porque muita gente não quer relacionar a marca a uma banda de heavy metal”, afirma o guitarrista Andreas Kisser. “É um público gigantesco e as pessoas do marketing dessas grandes empresas parecem não perceber. Triste realidade, em 2013 a gente tem que passar por isso no nosso país.”

Sem suporte das empresas, a banda recorreu ao apoio dos fãs para conseguir financiar o projeto. Através do crowdfunding, eles esperam recolher até US$ 100 mil em troca de diversos prêmios, que vão desde o nome nos agradecimentos até o encontro do fã com os ídolos.

“A gente leva o nome do Brasil [para fora do país] e muita gente não sabe”, diz Kisser. Já o diretor Juliano afirma que nem imaginava a falta de patrocínio, já que estamos falando de uma banda de metal reconhecida mundialmente. “É como se o Sepultura não fizesse parte da cultura do Brasil”, afirma. O cineasta, inclusive, tem testemunho pessoal da importância da banda para o Brasil em um panorama global. “Eu morei lá fora, estudei cinema em Los Angeles, e eles tinham duas referências do Brasil: Cidade de Deus e Sepultura.”

Juliano ficou particularmente impressionado com a idolatria da banda na Ásia. Ele acompanhou um show do Sepultura na Indonésia, entre outros lugares, e diz que o mais admirável é “a energia ao vivo que passa para diversos públicos”. Juliano pôde conferir também cenas de bastidores, como a saída do baterista Jean Dolabella, em 2011.

“Queremos mostrar um pouco o lado família. Muita gente acha que a gente é um bando de louco”, brinca Kisser, pai de três filhos. “Apesar de todas essas cobranças e comparações com outras fases do grupo, a gente está mais forte do que nunca. Somos uma banda saudável, criativa, que está falando coisas diferentes e interessantes.”

“É a primeira vez que os integrantes do Sepultura abrem os arquivos deles. Tem coisa que estava nos Estados Unidos, estamos conseguindo resgatar um passado da banda”, continua Juliano, que também espera, a partir de julho, acompanhar as gravações do novo disco do quarteto, em Los Angeles. Andreas Kisser comemora a repetição da parceria com Ross Robinson, produtor do clássico Roots (1996), além de Steve Evetts, que produziu Nation (2001) e Roorback (2003).

Otavio Juliano cavou entrevistas com gente que participou do começo do Sepultura, em Belo Horizonte, e grandes nomes do heavy metal como Scott Ian, guitarrista do Anthrax, e Phil Anselmo, vocalista do Pantera. Ele agora aguarda participação de peças essenciais na história do grupo. “Estamos conversando com os Cavalera. Vamos esperar até o último segundo para falar com eles.”

Quem quiser colaborar com o projeto deve acessar a página do Kickstarter.