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“Não quero ser sozinha, única, nesse movimento. É burrice”, diz Wanessa sobre o crescimento da música dance nacional

Cantora se prepara para o lançamento da turnê DNA Tour , neste sábado, 4, em São Paulo, e do segundo DVD ao vivo da carreira

Pedro Antunes Publicado em 01/05/2013, às 11h23 - Atualizado às 17h26

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Wanessa - Divulgação / Alê Souza
Wanessa - Divulgação / Alê Souza

Wanessa batuca na mesa a sua frente, ansiosa. Ao som das próprias batidas com as unhas de cor vinho, ela ouve atentamente a cada pergunta, sorri, inspira e responde. Não é de se prender a “sim” ou “não”, ela discorre com gosto pelos temas abordados durante a entrevista com a Rolling Stone Brasil, em uma sala de conferências de um hotel na zona sul de São Paulo. “Eu começo a contar as histórias e vou longe”, diz ela, rindo das próprias respostas longas ao fim do papo. “Mas espero que tenhamos conseguido falar sobre tudo. Qualquer coisa é só mandar um e-mail.”

Ela não divaga, longe disso. É apenas um reflexo de uma artista que vive este novo momento e quer gritá-lo para o mundo. E ela tem muito a falar. Conhece cada minuto, cena e passo da coreografia do novo DVD DNA Tour, que chegou às lojas nesta semana. A jovem agitada e atenciosa que se vê nas câmeras, nas cenas de making of, é a mesma que está ali, na sala, com figurino preto e cabelos em tom ruivo.

Ela, que estreia a turnê em São Paulo com apresentação neste sábado, 4, no HSBC Brasil, participou da concepção cada trecho do DVD, gravado na mesma casa, em outubro de 2012. Não assina a direção, que ficou com Joana Mazzucchelli, por ser um processo extremamente cansativo. “Fiz isso nos meus dois últimos shows”, explica ela, agora mãe de José Marcus, fruto do relacionamento com o empresário Marcus Buaiz.

Surpreendentemente para os padrões do mercado fonográfico brasileiro, Wanessa (que já há algum tempo não usa o sobrenome Carmago, note-se) tinha apenas um álbum ao vivo na carreira iniciada há 14 anos, quando assinou, aos 19, um contrato com a então BMG, selo que foi comprado pela Sony Music. “Isso tem uma razão”, diz, antes de discorrer brevemente por toda a sua discografia. O DVD em questão foi Transparente - Ao Vivo, lançado em 2004. “Eu estava em transição”, diz ela sobre o processo de transformação dela: de ícone teen, passando pelo sertanejo pop e chegando ao posto de expoente da música pop eletrônica nacional.

Esse processo que começou a se posicionar melhor com a música “Fly”, com participação de Ja Rule, lançada no disco Meu Momento (2009). Nele, Wanessa tentava se descobrir com artista, experimentou sonoridades, e chegou à maturidade com DNA, lançado dois anos depois, em março de 2011. “Eu preciso ser feliz com a minha música, não posso mais ficar fazendo isso”, diz ela sobre o sentimento que a tomou na época.

“Em Meu Momento, a gravadora queria fazer um DVD. Mas como fazer isso, com ‘Amor Não Deixa’ [de 2000] e com ‘Fly’? Não casava. Eu não quis fazer, não sou mais isso. ‘Fly’ me reposicionou no mercado”, afirma ela.

Depois de DNA, contudo, ela se viu, enfim, pronta. “Combinei com a Sony [Music] que depois de ter meu filho, lançaria um DVD”, explicou. Durante o período de gestação (o bebê nasceu em janeiro de 2012), ela preparou o terreno para o show que marcaria o novo posicionamento dela, oficialmente. “Já fui pensando no roteiro do show, em tudo”, diz ela, inquieta demais para deixar tudo se acalmar enquanto esperava o nascimento de José Marcus.

Wanessa trouxe para o show a parceria com Mister Jam, produtor e DJ que já havia participado do álbum de estúdio. “É o meu casamento musical”, diz ela, com sorriso nos lábios para falar do parceiro. “Pela primeira vez, eu me senti segura para opinar musicalmente.” Ela conta que Mister Jam não gostava de “Sticky Dough”, música que é a penúltima do show gravado. “Falei que era para colocar um funk na música”, conta ela. “Ele colocou e a música ficou ótima. Tem o som brasileiro junto com o eletrônico.”

O DVD, assim como o show que o originou, une ritmos sortidos dentro dessa nova sonoridade de Wanessa. “Adoro esses ritmos! Tenho paixão por percussão”, diz ela. “Eu sou fascinada por isso. Essa coisa latina, um pouco tribal. Misturar com música eletrônica. Gosto de reggaeton”, conta. A latinidade, aliás, está explícita na capa do trabalho, que traz Wanessa com roupas vermelhas e diminutas, com os cabelos loiros, soltos.

Além das participações de Naldo (“Deixa Rolar”) e Preta Gil (“Amor, Amor”), Wanessa chamou Bryan Tanaka, coreógrafo que trabalhou com Beyoncé, Rihanna e Jennifer Lopez, para dirigir os números de dança do espetáculo. Uma prova que a cantora segue o caminho de outras divas do pop, que arrastam multidões em terras brasileiras.

Um filão enorme que segue um tanto desconhecido no mercado fonográfico nacional. “Não é por falta de mercado”, justifica ela, acostumada a ter seus shows cheios. “Tem muito preconceito, tanta coisa. As pessoas precisam ter oportunidade de conhecer. Algumas músicas sempre vão ser brasileiras, como o nosso sertanejo, o samba, o forró, ainda temos as raízes. Uma música norte-americana, pop, tem espaço, sim.”

Ela, enquanto se prepara para lançar o DVD, já pensa no segundo semestre. Wanessa planeja lançar um festival que leve a música eletrônica brasileira para mais pessoas. “Vou usar o meu show como âncora para levar essa música para mais lugares. Vou pagar com o meu dinheiro”, afirma ela. “As rádios preferem que toquem artistas internacionais a brasileiros. Ainda que seja muito melhor para os radialistas [que o sucesso venha de um artista nacional].”

A nova fase de Wanessa foi abraçada, de início, pela comunidade GLBT. Algo que, segundo ela, já se espalhou e pulverizou. E, com isso, a tendência é que o movimento puxado por ela cresça e se espalhe naturalmente. Wanessa, uma artista madura e experimentada, parece ser a figura ideal para liderar tudo isso. “Não quero ser sozinha, única, nesse movimento. É burrice”, decreta.

Toda a experiência de 14 anos de estrada, contudo, não impede de que ela sinta como se borboletas voassem em sua barriga a 10 minutos antes de cada performance. “Isso não vai passar. Graças a Deus não vai. No dia que fizer um show como se estivesse indo até ali na esquina, deixou de ser especial”, diz ela. “Isso [a música] pode mudar o mundo. É muito especial. Eu quero fazer isso para resto da minha vida, quando eu tiver quarentinha, cinquentinha, sempre ralando.” Só quando ela fala isso, é possível se lembrar que estamos diante de uma cantora de apenas 30 anos. E mesmo nos holofotes há tanto tempo, ainda se mostra ansiosa para conseguir contar suas histórias.