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"Somos maiores do que os pesadelos que nos impuseram", diz Emicida sobre nova música

Depois de celebrar 10 anos de carreira, rapper se prepara para lançar um novo disco em 2019

Pedro Antunes Publicado em 09/05/2019, às 12h00

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Emicida lança a música "Eminência Parda" (Foto: Victor Balde / Divulgação)
Emicida lança a música "Eminência Parda" (Foto: Victor Balde / Divulgação)

Emicida pegou a sua caneta e, em vez de rabiscar rimas, escreveu a sua própria história ao longo de 10 anos de Laboratório Fantasma (escritório, gravadora e marca de roupas). Em parceria com o diretor mineiro Leandro HBL, ele escreveu o roteiro do videoclipe de "Eminência Parda", a primeira música do novo ciclo de disco do rapper, sucessor de Sobre Crianças, Quadris, Pesadelos e Lições de Casa, álbum de 2015.

"Somos maiores do que os pesadelos que nos impuseram", decreta Emicida. "Vencemos eles  antes e vamos vencê-los agora”, completa.

Assista, abaixo, ao clipe de "Eminência Parda", a primeira música do novo disco de Emicida.

A escolha pelo título, conta o rapper, é uma provocação ao termo em francês "éminence grise". No século era 17, o sentido era depreciativo. Agora, no alto, Emicida ri. "É provocador como a própria música", explica o rapper.

"De onde emana o verdadeiro poder? Quem nos diminuiu até acreditarmos que o poder e pessoas como a gente eram elementos contrários? É uma música sobre grandeza autêntica”, ele explica.

"Meto terno por diversão /
É subalterno ou subversão? /
Tudo era inferno, eu fiz inversão /
A meta é o eterno, a imensidão", rima o rapper.

O vídeo é isso também. Na tela, uma família negra celebra o ingresso da filha na faculdade. Vão a um restaurante chique, como merecem e podem, frequentado em grande parte por gente branca. Emicida e HBL são cirúrgicos ali.

A família protagonista come, bebe, ri, troca alegria. Em volta, quem está ali se incomoda. As cenas são cortadas por imagens nas quais os integrantes da família não estão mais no restaurante e, sim, nos lugares nos quais o preconceito e o racismo os deixou, como assaltantes, faxineiros ou stripers.

Poderosíssimo.

"Eminência Parda" tem as participações de Dona Onete, Jé Santiago e Papillon. Emicida escolheu cada um deles por um propósito.

Dona Onete, ao dar voz ao Canto II, do disco Canto dos Escravos, um álbum já de domínio público com cantos ancestrais dos negros benguelas de São João da Chapada (como informa o comunicado enviado à imprensa). Ela é o ontem.

Emicida, por si só, é o presente. É quem venceu a batalha das mais difíceis, chamada racismo, e hoje veste o terno para tirar onda.

A escolha de Jé Santiago mostra o futuro. O jovem integra um incandescente momento do novo rap paulista.

Papillon, por sua vez, é o que Emicida  fala na canção: "Meu cântico fez do Atlântico um detalhe quântico". A presença do rapper português faz como se o Atlântico não existisse. As origens são as mesmas.

"Eminência Parda" é o primeiro passo de Emicida com um disco cheio desde Sobre Crianças, Quadris, Pesadelos e Lições de Casa. Naquele trabalho, ele experimentou ir à África e se reconectar com raízes ancestrais.

Depois de entender "de onde veio", no que ele chamou de imersão, ele precisava emergir. Sua ideia para o novo álbum, que será lançado pelo  Laboratório Fantasma com distribuição da Sony Music, é criar uma reconexão.

É bom deixar claro, Emicida não ficou longe dos estúdios entre um disco e outro. Lançou singles (como "Pantera Negra",  "Hacia El Amor", "Inácio de Catingueira". "Vital", "Mil Coisas", entre outros, protagonizou feats em discos de Erasmo Carlos e Rubel, por exemplo, e celebrou os dez anos da música "Triunfo".

Com um show transformado em álbum ao vivo, Emicida relembrou a música que deu início à virada do jogo para o rapper, para o seu irmão Evandro Fióti e para a Laboratório Fantasma. Agora, Emicida vai se reconectar com tudo isso, de onde veio, onde está e para onde quer ir.

Emicida se apresentará no Rock in Rio 2019 ao lado das irmãs de origem cubana Ibeyi no dia 3 de outubro. Nesta mesma data, o festival carioca terá shows de Red Hot Chili Peppers, Panic! At the Disco, Nile Rodgers & Chic, Capital Inicial, Baco Exu do Blues, Francisco, El Hombre, entre outros. 

Leia a letra de "Eminência Parda": 

[Intro: Dona Onete]
Muriquinho piquinino, muriquinho piquinino
Purugunta aonde vai, purugunta aonde vai

[Refrão: Jé Santiago]
Escapei da morte, agora sei pra onde eu vou
Sei que não foi sorte, sempre quis tá onde eu tô
Não confio em ninguém, não
Muito menos nos po-po (Fuck the police)
Dinheiro no bolso, meu pulso todo congelou (Yeah)
Foi antes dos show (Antes dos show)
Bem antes do blow (Antes do blow)
Tava com meus bro, antes do hype e os invejoso
Escapei da morte, agora sei pra onde eu vou
Sei que não foi sorte...

[Verso 1: Emicida]
Ok
Eram rancores abissais (Mas)
Fiz a fé ecoar como catedrais
Sacro igual Torás, mato igual corais
Tubarão voraz de saberes orientais
Meu cântico fez do Atlântico um detalhe quântico
Busco em mim nos temporais (Vozes ancestrais)
Num se mede coragem em tempo de paz
Estilo Jesus 2.0 (Carai, Jesus 2.0)
Caminho sobre as água da mágoa dos pangua que caga essas regra que me impuseram
Era um nada, hoje eu guardo um infinito
Me sinto tipo a invenção do zero
Não sou convencido (Não), sou convincente
Aí, vê nas rua o que as rima fizeram
Da pasta base pra base na pasta, o mundão arrasta
Milhão, minha casta voa, ping-pong
Afasta bosta, basta mente, 'rasta a vida
Recalibra o yin-yang
Igual cineasta eu busco a fresta, ofusco a festa
Mira a testa, eu mando o Kim Jong, basta
Eu decido se cês vão lidar com King ou se vão lidar com Kong
Tipo as tecla, vim da vida seca
Tudo era o Saara, o Saara, o Saara
Abundância meta, tipo Meca
Sou Thomas Sankara, que encara e repara
Pique recém-nascido cercado de cheque
Mescla de Vivara, Guevara, lebara
Minha caneta tá fodendo com a história branca
E o mundo grita: "não para, não para, não para"
Então supera a tara velha nessa caravela
Sério, para, fella, escancara a pele em perspectiva
Eu subo, quebro tudo e eles chama de conceito
Eu penso que de algum jeito trago a mão de Shiva
Isso é Deus falando através dos mano
Sou eu mirando e matando a Klu
Só quem driblou a morte pela Norte saca
Que nunca foi sorte, sempre foi Exu (Uh)
Meto terno por diversão (Diversão)
É subalterno ou subversão? (Subversão)
Tudo era inferno, eu fiz inversão (Inversão)
A meta é o eterno, a imensidão (Ahn)
Como abelhas se acumulam sob a telha
Eu pastoreio a negra ovelha que vagou dispersa
Polinização pauta a conversa
Até que nos chamem de colonização reversa

[Verso 2: Papillon]
Não tem dor que perdurará
O teu ódio perturbará
A missão é recuperar
Cooperar e empoderar
Já foram muitos anos na retranca (Retranca)
Mas preto não chora, mano, levanta
Não implora, penhora a bandeira branca
Não cansa a garganta com antas, não adianta não
Foco e atenção na nossa ascensão
Fuck a opressão (Ya)
Não tem outra opção
Até estar tudo em pratos limpos, sem sabão (Ya)
A partir de agora é papo reto sem rodeio
Olha direto nos olhos de um preto sem receio
Dizem que eu cruzei a meta
Pra mim nem comecei
Cheguei, rimei, ganhei, sou rei

[Refrão: Jé Santiago]
Escapei da morte, agora sei pra onde eu vou
Sei que não foi sorte, sempre quis tá onde eu tô
Não confio em ninguém, não
Muito menos nos po-po (Fuck the police)
Dinheiro no bolso, meu pulso todo congelou (Yeah)
Foi antes dos show (Antes dos show)
Bem antes do blow (Antes do blow)
Tava com meus bro, antes do hype e os invejoso
Escapei da morte, agora sei pra onde eu vou
Sei que não foi sorte, eu sempre quis tá onde eu tô

[Saída: Dona Onete]
Muriquinho piquinino, muriquinho piquinino
Purugunta aonde vai, purugunta aonde vai