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Música e ideologia

"Já tivemos que lidar com muita coisa por causa das nossas crenças", diz B-Real, do Cypress Hill; rapper também fala sobre o Lollapalooza Chile, a apresentação no Brasil, América Latina e liberdade de expressão

Por Stella Rodrigues Publicado em 16/03/2011, às 18h21

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"Já tivemos que lidar com muita coisa por causa das nossas crenças", diz B-Real, ao centro: o grupo é conhecido por defender a legalização da maconha - James Minchin/Divulgação
"Já tivemos que lidar com muita coisa por causa das nossas crenças", diz B-Real, ao centro: o grupo é conhecido por defender a legalização da maconha - James Minchin/Divulgação

No dia 4 de abril, Cypress Hill e Deftones farão um show conjunto no Credicard Hall, em São Paulo. As duas bandas, que no fim de semana anterior integram o line-up do festival Lollapalooza Chile, são velhas conhecidas uma da outra (inclusive, B-Real, do Cypress Hill, e Stephen Carpenter, guitarrista do Deftones, são colegas de banda no projeto Kush). E no mês que vem, dividirão a noite e a plateia paulistana.

Leia abaixo a entrevista com o rapper B-Real, que compõe o Cypress Hill ao lado do DJ Muggs, o percussionista Eric Bobo e o rapper Sen Dog. Ele falou ao site da Rolling Stone Brasil sobre a apresentação, planos para o próximo álbum, o público da América Latina e liberdade de expressão.

Rise Up (2010) tem muitas participações especiais: Mike Shinoda (Linkin Park), Tom Morello (Rage Against the Machine). O próximo disco deverá trazer muitos artistas também? A quantas anda a produção?

Não tenho certeza, ainda não pensamos direito nisso. Quando trabalhamos em um disco, tentamos ir lá e sentir a vibe dele, sabe? Ver onde ele nos leva. Acredito que as primeiras faixas serão feitas pelo DJ Muggs e por mim, e depois que tivermos juntado um número suficiente de músicas, vamos organizar e ver se vamos colocar outras pessoas para produzir e participar.

Como será o show com o Deftones?

Eu acho que estaremos no mesmo palco, mas não ao mesmo tempo. Para ser bem sincero, eu não tenho muita certeza de como eles organizaram. Sempre nos shows acabamos tocando um pouco de tudo. Entendemos que sim, temos um disco novo que temos que promover e queremos que as pessoas gostem dele - e, se já gostarem, obviamente vão querer ouvir um pouco ao vivo -, mas tentamos tocar o suficiente das outras também.

E já que você e Stephen Carpenter estarão ali, há chance de algum material do Kush fazer parte da apresentação?

Eu não acho que o Kush tenha chance de se apresentar ao vivo tão cedo. A gente não faz nada novo há algum tempo. O Deftones tem estado ocupado em turnê e a gente tem estado ocupado também, então tem ficado difícil de a gente se reunir com os outros integrantes [o guitarrista Christian Olde Wolbers e o baterista Raymond Herrera] da banda para fazer novas músicas. Mas nunca se sabe, pode ser que a gente resolva entrar em estúdio e fazer algo novo, lançar um disco e marcar uma turnê de verdade.

O Cypress Hill tocou pela primeira vez em um Lollapalooza no palco paralelo, em 1992, tendo participado posteriormente de diversas outras edições. Imagino que vão se sentir em casa tocando nesse primeiro Lollapalooza Chile.

É uma honra para a gente poder fazer isso. Voltar lá e poder fazer o Lollapalooza... é uma coisa incrível. Temos que agradecê-los por nos deixar ser parte disso. Estamos ansiosos, sabemos que será um show divertido e pretendemos fazer a nossa parte para que seja mais divertido ainda, levando nossa energia para o palco.

Vocês esperam que seja diferente, de alguma forma, por ser Lollapalooza, mas em um outro país?

Eu acho que as pessoas estarão muito mais no pique do que nos Estados Unidos. Lá, a platéia até se empolga, mas o festival tem feito parte da cultura musical do país há anos. É um outro nível de animação quando você leva isso para fora do país, pela primeira vez. As pessoas ficam tão mais empolgadas, porque nunca tiveram isso lá antes, é novo. E se elas gostam de todas as bandas do line-up, elas aguardam ansiosamente por isso. Acho que teremos um público bem desvairado e será bem insano, no bom sentido.

O Cypress Hill continua, até hoje, sendo o grupo latino de rap que mais vendeu discos. Mas vocês nunca exploraram a herança latina para vender, nunca jogaram com esse nicho. Tocar na América Latina muda alguma coisa para vocês? Optam por focar mais nas músicas traduzidas para o espanhol?

É um pouco diferente, sim. Na América Latina, quando cantamos essas músicas [em espanhol], as pessoas conseguem se identificar totalmente. Eles se sentem mais ligados às faixas em espanhol, porque é óbvio, é o idioma que entendem bem melhor. De forma geral, é uma sensação boa poder tocar aquelas músicas na língua do país e ver a reação.

Em festivais, o público está lá para ver todo tipo de banda, não só vocês. Esse tipo desafio é interessante? Muda algo na escolha do set list, por exemplo?

Em geral, olhamos para festivais da mesma forma como olhamos para algo menor, em um clube. Quando você para e pensa, é como uma montanha-russa. Você tem que leva o público para cima, para baixo, dar volta neles. Tem que levar as pessoas para esse passeio. Quando pensamos no que vamos tocar, é assim que programamos. Às vezes mudamos, porque temos tantas músicas com as quais variar... O que faz mais diferença é o tempo que temos para tocar. Em shows mais curtos, tocamos só aquelas que as pessoas certamente vão conhecer - "Insane in the Brain", "How I Could Just Kill a Man","Rock Superstar". Quando há mais tempo, são essas e outras que foram grandes, mas não chegaram a ser hits.

Falando em festivais, ano passado vocês chegaram a ser confirmados para o SWU, aqui no Brasil, e no fim não deu certo. O que houve?

Eu não tenho muita certeza do que aconteceu, talvez tenha sido um problema de agendas. A última vez que fui ao Brasil foi para [divulgar] meu álbum solo há alguns anos. Depois disso, era para o Cypress Hill ir, mas eu não lembro bem o que houve. As coisas acontecem por alguma razão. e agora estamos voltando. Ainda bem.

Você soube de uma história polêmica que aconteceu com o Rage Against the Machine durante o SWU?

Não...

Eles estavam tocando e Tom Morello colocou um boné do MST, o Movimento dos Trabalhadores Sem Terra. O show estava sendo transmitido por uma emissora de TV a cabo e a exibição acabou sendo interrompida. Embora, por meio de comunicado, o canal tenha explicado que os dois fatos não estavam relacionados, muitos atribuíram o corte ao fato de a banda demonstrar seu apoio ao MST. Vocês também são considerados uma banda bastante politizada. Já tiveram problemas como esse?

Apesar da democracia, não é sempre [que a liberdade de expressão predomina]. É uma pena. Esse tipo de coisa vem para mostrar que, na verdade, a gente só tem uma certa liberdade. E para ter a liberdade que temos, devemos pagar, e muito, infelizmente. Mas esse é o tipo de banda que eles são. Eles assumem posições como essas, por serem uma banda muito politizada, falam o que querem sobre as coisas nas quais acreditam.

Acredito que o Cypress Hill seja um pouco assim também, não?

Sim, sim, já tivemos nossos momentos como esse, também. Mas por causa de políticas diferentes. Sempre fomos os caras que pregam a legalização da maconha nos Estados Unidos, e isso é semipolítico. Não chega a ser engajado como o Rage Against the Machine, mas já tivemos que lidar com muita coisa por causa das nossas crenças políticas, então nos identificamos bastante com a banda e algumas coisas que eles costumam encarar por causa do que falam.