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Crítica: irretocável em termos de produção, Melodrama, de Lorde, é fantasticamente íntimo

A neozelandesa reflete sobre o fim da adolescência e o “renascimento emocional” no segundo disco da carreira

Will Hermes Publicado em 16/06/2017, às 14h58 - Atualizado às 15h22

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Capa de <i>Melodrama</i>, segundo disco da cantora neozelandesa Lorde - Reprodução
Capa de <i>Melodrama</i>, segundo disco da cantora neozelandesa Lorde - Reprodução

No debute, Pure Heroine (2013), Lorde ridicularizou a música pop enquanto se vangloriava em cima disso. Ella Yelich-O’Connor mostrou um fluxo de primeira-aluna-da-classe-na-detenção, um senso gótico de drama e um ar de “estou acima disso” que apenas uma jovem de 16 anos pode produzir. Cheio de coração e letras recheadas de nuances, o LP foi uma pequena obra-prima e um grande sucesso. Era perceptível que a nativa de Auckland, Nova Zelândia, estava nessa para o longo prazo, e, após uma espera de quatro anos, o segundo disco dela, Melodrama, confirma essa noção.

Agora aos 20 anos de idade, Lorde imediatamente sinaliza uma nova ordem, com solitários acordes de piano onde, em Pure Heroine, seriam elementos eletrônicos. Eles abrem o single “Green Light”, uma mensagem farpada a um ex que a cantora não consegue esquecer. A música se torna uma viagem eletroacústica, com os vocais de “I want it!” lembrando outra cantora e compositora precoce, hiper lírica e amante de sintetizadores – Kate Bush, que insistia que “I want it all!” lá em 1982, em “Suspended in Gaffa”. Dê alguns créditos a Lorde por querer tudo também – o panorama grandioso da música eletrônica ao lado do humano e artesanal.

Esse é o truque aqui, conduzido divertidamente pelo cocompositor/coprodutor Jack Antonoff, que traz o senso musical do rock que ele criou com o fun. e afiou em 1989, de Taylor Swift, à astúcia eletropop de Lorde. Utilizando espaços vazios para efeitos espetaculares, os arranjos vão da plena clareza ao delírio, geralmente em apenas alguns compassos.

Assim como os estalar de dedos no primeiro sucesso dela, “Royals”, pequenos toques se agigantam: a seca abertura de guitarra em “The Louvre”, com uma atmosfera de ambient-dub; os uivos distantes e inspirações heráldicas no roots-reggae em “Sober”, faixa midtempo sexy que segue duvidando do próprio prazer; o barulho industrial em “Hard Feelings/Loveless”; as batidas de trap que bombardeiam a orquestral faixa-título. Em termos de produção de música pop, é um tour de force.

A escrita e os vocais fantasticamente íntimos de Lorde, variando desde gorjeios graves até todos os tipos de sonoridades digitalizadas, fazem com que o disco seja importante. Ela havia dito que o conceito do álbum era uma festa e os dramas que se desenrolam nela. De fato, a pegada cool de Pure Heroine é agora uma paixão mais quente, do jeito naturalmente cético dos millenials. Isso fica ainda mais perceptível na balada ao piano “Liability”, uma reflexão sobre a solidão de uma drama queen ambiciosa do pop.

Mas o momento mais impactante de Melodrama pode ser um discreto elemento em “Homemade Dynamite” – uma brincadeira com uma referência a Top Gun: Ases Indomáveis –, quando Lorde vocaliza uma pequena explosão em meio ao silêncio total, como um amigo sussurrando uma mensagem sem palavras no seu ouvido em uma cabine de balada enquanto o caos se instala ao redor. É algo emblemático de um disco pop moderno que valoriza a intimidade clássica, e se arrasta até bem depois de as luzes terem sido acesas.