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Conheça o que se passa na mente hiperativa de James Franco, uma das personalidades mais intrigantes de Hollywood

O ator está trabalhando em uma dezena de filmes, dando aulas de cinema, escrevendo livros – e ainda tem tempo para pintar beija-flores

Jonah Weiner Publicado em 10/05/2016, às 12h07 - Atualizado às 13h06

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James Franco clicado por Mark Seliger - Mark Seliger
James Franco clicado por Mark Seliger - Mark Seliger

É o final da primeira semana de produção de um filme chamado The Mad Whale, feito por um grupo de pós-graduandos em Los Angeles. James Franco, o professor dos estudantes, está prestes a atuar em uma cena. “São meus alunos na UCLA – quer dizer, na USC”, diz. Ele dá aula nas duas universidades e fica confuso por um momento.

The Mad Whale é uma produção inegavelmente modesta. Não há um exército de trailers com ar-condicionado em torno das locações nem uma brigada de incêndio. Em outras palavras, não se parece em nada com o tipo de set em que se espera encontrar um astro do cinema mundialmente famoso. Só que James Franco não é como os outros astros do cinema. Já atuou em comédias de sucesso e blockbusters de ação, como Segurando as Pontas e a trilogia Homem-Aranha, e em filmes independentes bem cotados, como Spring Breakers: Garotas Perigosas e Milk: A Voz da Igualdade; ganhou um Globo de Ouro pelo papel de James Dean em um filme homônimo para a TV em 2001 e foi indicado ao Oscar de Melhor Ator por 127 Horas (2010). Há, no entanto, o outro lado de Franco: ele é um idiossincrático e incansável acadêmico – ou, dependendo do nível de ceticismo do leitor, um entusiasta hiperativo – que passou a última década correndo atrás de uma variedade impressionante de interesses. Não só ensinando mas fazendo cursos de pós-graduação em cinema e literatura; publicando livros de ficção e de poesia; colaborando com a famosa artista performática Marina Abramovic e montando exposições de arte feitas por ele próprio, incluindo um vídeo em close de pênis urinando e ânus defecando; sendo astro convidado da novela General Hospital e protagonista do musical Ratos e Homens na Broadway; fundando uma banda de rock chamada Daddy. Junte a esses vertiginosos itens aproximadamente um zilhão de outras escolhas improváveis de trabalho e você pode dizer que Franco, de 38 anos, é o homem mais produtivo da cultura pop.

Não é fácil apontar outra carreira de ator que tenha se desdobrado de um jeito tão desconcertante quanto a dele. Franco ficou famoso jovem, no reverenciado seriado cult Freaks and Geeks, contracenando com Seth Rogen, que se tornaria seu amigo e colaborador frequente. Foi chamado de “o próximo grande astro” por interpretar James Dean. Uma trajetória em filmes de prestígio logo se desenhou, mas Franco seguiu outro caminho, sem discriminar nenhum gênero: espantoso ou sério, experimental ou amplo, visto mundialmente ou basicamente ignorado. Se havia uma lógica guiando as escolhas aparentemente caóticas dele, só ele mesmo entendia. Ao discutir isso, Franco parafraseia uma piada que Jonah Hill contou no Roast de James Franco do Comedy Central: “Meu modo de trabalhar é, de certa forma, ‘Um para eles [para a indústria], cinco para mim’ [há uma frase conhecida entre atores que diz ‘um filme para eles, um para mim’]”.

Em um dia de trabalho, ele chega às 8h30 ao estúdio da Fox, em Los Angeles, para atuar em um dos cerca de 15 projetos com lançamento para 2016 listados na página dele no site IMDb. Este, marcado para estrear em dezembro, é uma comédia de Natal coestrelado por Bryan Cranston com o título Why Him?, do diretor John Hamburg (o filme tem, inclusive, uma ponta do youtuber brasileiro PC Siqueira). “É definitivamente ‘um para eles’”, diz Franco, “mas é incrível – tenho a oportunidade de trabalhar com o Bryan e, de verdade, está ficando muito engraçado”.

Entre os principais protagonistas de Hollywood, o talento de Franco para a comédia é peculiar: ele está fantástico como uma versão exagerada de si mesmo em É o Fim e bobamente transcendente como um traficante de maconha vulnerável em Segurando as Pontas. Seth Rogen diz: “À distância, ele pode parecer o ser humano mais babaca do planeta, mas assim que você o conhece quase sente vergonha das coisas que havia presumido sobre ele. Acho que é por isso que as plateias gostam de James, porque ele é estranho e faz todas essas coisas fascinantes e bizarras, mas na vida real parece seu amigo bobo, que tira as calças para te fazer rir. Ele é assim!”

No estúdio, uma cena de luta com Cranston em Why Him? envolve muitos passos coreografados por dublês, o que se traduz em muito tempo sem nada para Franco fazer. Como ele odeia desperdiçar tempo, faz-se um cenário absurdo: enquanto os dublês brigam, ele fica sentado de pernas cruzadas em uma cadeira dobrável e lê não um mas dois livros ao mesmo tempo – uma biografia de Jackson Pollock e Playing in the Dark: Whiteness and the Literary Imagination, de Toni Morrison. Franco lê várias páginas de um, depois passa para o outro, sem se importar com a cacofonia a poucos metros de distância.

Apesar da devoção febril de James Franco a projetos pessoais, até agora nenhuma de suas exposições de arte, obras de ficção ou tentativas de direção foi sucesso de crítica, muito menos de público. Ele diz que a falta de sucesso comercial, pelo menos, não o incomoda: “Sei que, se dirigir uma adaptação de Filho de Deus, de Cormac McCarthy, sobre um necrófilo” – o que fez há alguns anos –, “muita gente não verá, mas para mim é um puta sonho”. Alega rejeitar “as hierarquias e regras tácitas sobre os tipos de projetos que constroem uma grande carreira”. “Tipo eu estava em General Hospital ao mesmo tempo que fui indicado ao Oscar e percebi que há coisas que se pode fazer em uma novela como essa que não dá para fazer em outros lugares.”

Uma das principais preocupações artísticas de Franco é a homossexualidade, que ele explorou em diversos trabalhos, como o filme biográfico que dirigiu e estrelou sobre Hart Crane, o torturado poeta gay dos anos 1920, ou o filme de 2013 Interior. Leather Bar., inspirado pelo filme Parceiros da Noite, de William Friedkin, sobre um assassino espreitando o underground gay em Manhattan na década de 1970. “Quando eu estudava na NYU, fiz aulas de estudos críticos e um dos meus preferidos era sobre o cinema gay”, conta, explicando seu fascínio pela arte homossexual. “Já contamos histórias heterossexuais e heteronormativas demais em nossos filmes, nossos programas, nossos comerciais – em todo lugar. Acho saudável fazer um trabalho que rompa e questione isso e mostre outras narrativas. É isso o que um artista deveria fazer.” Não é de surpreender que a própria sexualidade de Franco tenha se tornado alvo de boatos. No ano passado, ele esclareceu um pouco as coisas, escrevendo em um artigo para uma revista: “Sou gay na minha arte e hétero na minha vida; também sou gay na minha vida, exceto no sexo”. Mas a linha que separa arte e vida pode ficar difusa, como no Instagram de Franco, em que ele já postou diversas fotos homoeróticas de si mesmo – sem camisa em uma sala de ginástica, abraçando um ator bronzeado de sunga ou em boa forma enquanto depila os mamilos em um quarto de hotel. Franco me diz que usa o Instagram, às vezes, como “uma forma de descobrir quais são os limites e incomodar”.

Ele já afirmou que o lado bom dos boatos sobre sua sexualidade é que eles funcionaram como um “escudo”, e reitera isso agora: “Uma das coisas boas sobre toda essa especulação” quanto a ser ou não gay, diz, ansioso para mudar de assunto, “é que é uma cortina de fumaça” – uma espécie de meio para se esconder mesmo estando à vista de todos.

Franco tem um minicondomínio em Silver Lake, mas, por enquanto, está morando em um hotel em Los Angeles. “Há distrações demais por lá”, afirma (a casa dele supostamente faz as vezes de escritório, locação e lugar para amigos dormirem).

Além de escrever romances, dar aulas e rodar filmes, ele tem pintado no quarto que aluga – recentemente, fez uma série de retratos de beija-flores e começou a fazer telas baseadas em anuários antigos de escola. O que quer dizer que, mesmo em seu quarto, depois de um dia de trabalho, ele simplesmente trabalha mais.

De todos os projetos que alterna no momento, ele tem mais expectativas em relação a The Disaster Artist, que dirigiu e, imagina, pode satisfazer suas obsessões bizarras e também arrecadar uma boa bilheteria. “É o cruzamento perfeito de algo artisticamente interessante para mim que também pode ser meio que comercial”, diz. O longa dramatiza as filmagens de The Room, um cult de 2003 que se tornou ícone na lista de filmes que, de tão ruins, acabam se tornando bons. “Não é sobre fazer o pior filme já rodado – é sobre pessoas correndo atrás do sonho americano”, diz Evan Goldberg, cuja produtora com Seth Rogen, a Point Grey, está a cargo do filme. “É a mistura dos meus dois mundos”, conclui Franco.

Estamos conversando há algumas horas no restaurante do hotel onde ele está morando quando Franco finalmente pega sua garrafa térmica cheia de café – a única “droga” que ele consome – e se levanta da mesa. Já passou da meia-noite. O multiartista vai para o elevador e sobe até sua suíte no 7º andar – talvez para dormir, talvez para ler, talvez para escrever ou talvez para algo totalmente diferente. Afinal, aqueles beija-flores não irão se pintar sozinhos.

Superando Boatos

Franco já usou acusações – falsas, ele garante – como material para arte

Fofocas sobre a sexualidade de James Franco tomaram um rumo perigoso em 2008, quando o site Gawker começou uma série de posts republicando uma nota anônima do portal Page Six, que afirmava que o ator tinha atacado sexualmente um homem; os posts se referiam a ele como “estuprador gay” (o autor renegou os textos posteriormente). “Parecia que, se eu entrasse com um processo, o negócio só ganharia mais atenção”, Franco lembra, remexendo-se desconfortavelmente. Então, em vez disso, ele postou fotos falsas de paparazzi no Instagram que o mostravam se agarrando a um homem e começou a desenvolver um projeto de filme com um amigo, cujo título era GR – sigla para “gay rapist”, “estuprador gay”. Era, segundo ele, uma tentativa “de usar essa acusação falsa como material [para arte]” (GR acabou sendo abandonado, mas inspirou parcialmente o personagem do ator em General Hospital, um artista também chamado Franco que pode ou não ter sido um assassino.)