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Para Kevin O Chris, exportar o funk é: "ato político"

Aos 24 anos, músico de Duque de Caxias, Rio de Janeiro, acumula números milionários com fãs estrangeiros do funk – nessa sexta (20), ele lança a gravação de seu novo show, feita em Lisboa: “o nosso som desceu a favela”

Eduardo do Valle (@duduvalle) Publicado em 20/05/2022, às 07h00

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Kevin O Chris: exportar funk é 'ato político' - Reprodução
Kevin O Chris: exportar funk é 'ato político' - Reprodução

“É o funk dominando o mundo, esquece!” Kevin o Chris tira onda, mas resume com precisão o momento que atravessa – não só ele, mas todo um movimento que saiu das periferias brasileiras e hoje ganha o mundo. O funk não é mais aquele. Quem diz é o próprio hitmaker de Duque de Caxias, que viu suas músicas ganharem bilhões de views e cruzarem o oceano para lugares como Portugal, Angola, Estados Unidos. Nessa sexta (20), ele lança Sonho De Garoto, seu novo DVD gravado na Altice Arena em Lisboa. Por lá, faixas como “Evoluiu”, “Vamos pra gaiola” e “Ela é do tipo” ganharam sotaque para lá de especial.

'Sonho de Garoto': DVD de Kevin o Chris gravado em Portugal (Divulgação)
'Sonho de Garoto': DVD de Kevin o Chris gravado em Portugal (Divulgação)

Para o cantor, que já quebra recordes de charts no Brasil desde 2019, levar o funk pelo mundo é um movimento que excede à música: "levar o nosso som para o mundo é um ato político", diz, "junto com o rebolado, com as batidas e as coreografias, nós levamos o movimento periférico que é o funk, levamos a cultura da favela, levamos o som que muda vidas no Brasil, que emprega milhares de pessoas, que transforma a realidade de muitas famílias".

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“O nosso som desceu da favela, alcançou as festas de playboy, se misturou com outros ritmos, que funcionam no mercado internacional, como o pop, o rap, o trap, e hoje tá nos maiores festivais de música”, diz O Chris, “Os tempos mudaram e a galera que consome música também”.

Mudou dentro do Brasil e foi para fora também. Hoje, parcerias com nomes como Drake, Dulce Maria e R3hab são parte da rotina de Kevin. “Vai Rebola Pro Pai - Ela é do tipo”, seu feat com Drake, ultrapassou a marca de 50 milhões de streams, apenas no Spotify. “Tipo Gin” alcançou o segundo lugar no Spotify Portugal e o primeiro no iTunes de lá. Foi o que levou Chris a decidir marcar na Europa a gravação de seu novo show: “os portugueses escutam demais minhas músicas”.

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É justamente sobre esse movimento, de expansão e domínio global do funk, que a Rolling Stone Brasilconversou com Kevin O Chris – de quebra, pegamos detalhes sobre seu novo DVD. Confira abaixo:

Kevin O Chris em 'Sonho de Garoto', DVD gravado em Portugal (Reprodução/Instagram)
Kevin O Chris em 'Sonho de Garoto', DVD gravado em Portugal (Reprodução/Instagram)


Rolling Stone Brasil: Kevin, o funk vive um momento de destaque global - Anitta expoente, você na África e a Europa, Pedro Sampaio em chart internacional... Em sua visão, qual é a diferença desse momento para os anteriores?
Kevin O Chris: O funk viveu vários momentos até chegar no que estamos vivendo, graças a outros artistas que vieram antes dessa geração de agora e foram consolidando a nossa música, como o paizão Mr. Catra. O nosso som desceu da favela, alcançou as festas de playboy, se misturou com outros ritmos, que funcionam no mercado internacional, como o pop, o rap, o trap, e hoje tá nos maiores festivais de música. Os tempos mudaram e a galera que consome música também. Meu som com o Drake tem mais de 50 milhões de plays no Spotify, ele não tá tocando só no baile mais, tá no mundo todo! Nossa caminhada ainda é longa, ainda vamos trabalhar muito duro pro funk ser respeitado no Brasil, pro cantor de funk conquistar mais espaços, pra gente chegar no topo e ficar. Mas se olharmos pra trás, a realidade era diferente.

Rolling Stone Brasil: Você levou seu show pra Angola agora, teve também uma experiência em Portugal. Essa vontade de levar a carreira pra fora do Brasil, ela existe? É seu objetivo?
Kevin O Chris: Com certeza! O meu sonho como artista é levar o funk o mais longe. Fazer meu som chegar em diferentes países, mostrando a realidade desse movimento de periferia que transforma vidas. O funk não é só um som, ele salva vidas e salvou a minha. Fico feliz demais por ser um representante do funk, por conseguir mostrar um pouco da realidade dentro da favela, com meu som.

Kevin O Chris: 'Acredito que levar o nosso som para o mundo é um ato político, não importa o idioma" (Reprodução)
Kevin O Chris: 'Acredito que levar o nosso som para o mundo é um ato político, não importa o idioma" (Reprodução)

Rolling Stone Brasil: Falando dessa atenção mundial, você gravou DVD em Portugal. Como foi a escolha de fazer a gravação de um show de funk brasileiro, carioca, por lá?
Kevin O Chris: Desde menor sempre quis ganhar o mundo com o meu som e poder ter uma carreira de sucesso no funk. Hoje em dia esse sonho é realidade, eu vivo da minha música e venho conquistando coisas que jamais imaginei! Decidimos fazer o meu 3º DVD da carreira em Portugal, onde a galera curte o funk, se amarra no meu som, e sempre me fortaleceu como artista. As plataformas digitais nos dão um parâmetro muito real do que estamos atingindo e os portugueses escutam demais minhas músicas. "Tipo Gin" alcançou o top 2 do Spotify Portugal, foi a música mais escutada no iTunes de lá, vendo tudo isso acontecer, quis retribuir com um projeto mega importante pra mim.

Rolling Stone Brasil: Falamos de Portugal, de Angola... recentemente, vimos artistas de diferentes gêneros daqui indo para lá. Como a música brasileira conversa com essa audiência?
Kevin O Chris: O Brasil sabe fazer música boa né? [risos] Independente do estilo, a gente sabe se destacar. Fora que tem uma mistura muito boa no nosso som, é difícil alguém não gostar! Acho que essa mistura leva a galera lá de fora curtir demais o show e sentir a energia do Brasil.

Rolling Stone Brasil: Muito se fala sobre o desafio de cantar em português para o cenário internacional. Pra citar um exemplo recente, temos a Anitta compondo em inglês e espanhol. Você preferiu seguir outro caminho, levar a música pra Angola, para o público lusófono como nós. Como foi essa decisão? Qual o próximo passo - ou o próximo país?
Kevin O Chris: A Anitta não só canta em outros idiomas como se preparou para se lançar internacionalmente. Ela possui uma equipe e uma gestão de carreira internacional e vem fazendo um trabalho brabo. O meu trabalho fora do Brasil é uma repercussão positiva do que canto para o meu público brasileiro. O Drake, a Dulce María e o R3hab vieram através de funks meus que estavam acontecendo no Brasil, e graças a Deus conseguimos exportar esses trabalhos com essas parcerias. O sucesso do meu som em países como Portugal e Angola também acontecem através das plataformas digitais, que permitem essa troca, o público de fora alcança minhas músicas e curte. Eu canto a minha realidade, e tudo que eu vivo dentro da favela! Quero levar pro mundo o funk raiz e tudo que eu sou. Em algum momento posso levar o funk em outro idioma, mas por enquanto venho conquistando com o que está estourando no Brasil.

Kevin O Chris: 'independente da forma que o funk é levado, conseguir romper as barreiras já é extremamente importante' (Reprodução)
Kevin O Chris: 'independente da forma que o funk é levado, conseguir romper as barreiras já é extremamente importante' (Reprodução)

Rolling Stone Brasil: Você diria que buscar uma carreira internacional cantando em português é um ato político?
Kevin O Chris: Acredito que levar o nosso som para o mundo é um ato político, não importa o idioma. Junto com o rebolado, com as batidas e as coreografias, nós levamos o movimento periférico que é o funk, levamos a cultura da favela, levamos o som que muda vidas no Brasil, que emprega milhares de pessoas, que transforma a realidade de muitas famílias. Eu canto em português e conquistei muito a nível internacional cantando no nosso idioma, mas independente da forma que o funk é levado, conseguir romper as barreiras já é extremamente importante.

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Rolling Stone Brasil: E você sente essa aproximação da comunidade lusófona com nossa música brasileira? Como é a recepção da sua música nesses países?
Kevin O Chris: A recepção da galera sempre é animal! A energia faz com que eu me sinta no Brasil, uma sensação de estar em casa, sendo recebido pela nossa galera. Apesar do idioma ser igual, eles vivem outra cultura e mesmo assim se identificam com o nosso ritmo, com o som da favela. É uma troca surreal, não tenho nem palavras pra descrever, é muita emoção e gratificante demais. Cada vez que piso em um palco fora do meu país, só me faz ter mais certeza que estou no caminho certo. É o funk dominando o mundo, esquece!

Rolling Stone Brasil: Falando de Anitta, você participou do novo álbum dela agora. Como foi essa aproximação? O convite, a gravação...?
Kevin O Chris: Eu já tava pra lançar uma música com a Anitta, já tinha uns três anos que essa faixa foi gravada. O nosso eterno rei do funk, Mr. Catra, deixou umas vozes gravadas com o meu mano Papatinho, e eu fui convidado por ele e pela Anitta pra entrar nessa música. Não tinha como recusar, o cara que é uma das minhas maiores inspirações e referências no funk, com a número 1 do mundo e um dos maiores produtores da atualidade. Estávamos só esperando o momento certo pra soltar! Acabou que surgiu a oportunidade de entrar no álbum internacional da Anitta e o resultado foi maior do que todo mundo esperava. A faixa já está com mais de 4 milhões de plays no Spotify, hit no TikTok, sucesso absoluto.

Rolling Stone Brasil: Desde o lançamento de Versions of Me, você sentiu diferença nos seu números globais? Como foi isso?
Kevin O Chris: Teve diferença sim, o álbum internacional da Anitta sempre traz visibilidade lá de fora pro funk, e isso fez os números crescerem! Isso é bom demais pro nosso som e faz o nosso funk ser reconhecido cada vez mais.