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Música / Opinião

Måneskin sobre rejuvenescimento do rock: ‘É bom para os jovens nos ver tocando instrumentos analógicos’ [ENTREVISTA]

Integrantes do Måneskin conversaram com a Rolling Stone Brasil antes de show no Espaço Unimed e refletiram sobre momento da banda

Måneskin é formado por Victoria De Angelis, Thomas Raggi, Damiano David e Ethan Torchio (Foto: Jamie McCarthy/Getty Images for MTV/Paramount Global)
Måneskin é formado por Victoria De Angelis, Thomas Raggi, Damiano David e Ethan Torchio (Foto: Jamie McCarthy/Getty Images for MTV/Paramount Global)

Mesmo com pouco tempo de estrada, especialmente após fazer sucesso mundial com o cover de “Beggin’,” música do The Four Seasons, Måneskin conseguiu balançar a cena do rock e reacendeu, de certa forma, um gênero que enfrenta dificuldades para atingir o público mais jovem.

Claro, o rock nunca deixou de ser conhecido e celebrado pelo mundo, mas existe um saudosismo de que era melhor antigamente, além de gêneros como pop e k-pop estarem em maior evidência atualmente. No entanto, o grupo italiano, formado em 2016 por Damiano David (vocal), Victoria De Angelis (baixo), Thomas Raggi (guitarra) e Ethan Torchio (bateria), consegue se destacar, apesar do rock and roll não ser algo tão comercial quanto um dia já foi.

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Isso é comprovado quando se vai para um show do grupo: a maioria do público e fãs é de mulheres, a maioria jovem. Um grande fator para esse acontecimento é a temática das letras, que dialoga diretamente com o que essa galera vive, feitas por pessoas da mesma faixa etária: o mais velho é David (24 anos) e o integrante mais novo é Raggi (22).

Na noite do dia 3 de setembro de 2023, Måneskin fez o segundo show da carreira em São Paulo após iniciar a parte da turnê Rush! World Tour no Brasil no Rio de Janeiro, com apresentação feita em 1º de novembro de 2023, no Qualistage.

No camarim do Espaço Unimed, em SP, o quarteto italiano conversou com a Rolling Stone Brasil para falar sobre o disco RUSH! (2023) e a versão deluxe, RUSH! (ARE U COMING?). Além disso, eles também falaram sobre o rejuvenescimento do rock, rótulo de “one hit wonder,” elogios de Mick Jagger e mais.

O RUSH! original foi lançado em 20 de janeiro e não teve boa recepção da crítica especializada - talvez, por isso, o setlist não tenha tantas canções do álbum e misture bastante os trabalhos anteriores da banda. Porém, segundo Damiano David, é nos shows que você recebe “o feedback real” - e aproveitou para elogiar o público sul-americano, definindo-o como muito acalorado e enérgico.

Foi justamente na estrada que os quatro começaram a pensar numa expansão do disco, lançada na última sexta, 10. Quando estão em turnê, eles ficam muito mais inspirados. “E fazemos muito quando queremos descrever esse tipo de estilo de vida, sentimentos que deixávamos naquele momento no qual fazemos tantos shows e viajamos tanto, blá-blá-blá,” explicou o vocalista.

Como esse momento ainda não acabou, achamos melhor incorporar as músicas ao resto do disco, porque ainda descrevemos essa parte da nossa vida, ainda naqueles sentimentos. [...] Sentimos que a história que estávamos contando ainda não havia acabado. E achamos que era justo adicionar alguns detalhes.

Por falar na discografia do grupo, algo raro de acontecer é a colaboração com outros artistas. Apenas dois álbuns contam com o famoso “feat”: Il ballo della vita (2018) tem o rapper Vegas Jones na faixa “Immortale,” enquanto RUSH! tem o grande Tom Morello (guitarrista do Rage Against the Machine) em “GOSSIP.”

Conforme Victoria De Angelis falou à Rolling Stone Brasil, a banda cogita essas colaborações quando possuem uma relação genuína com outros artistas. Eles não gostam quando as coisas são apenas definidas pela gravadora.

“Quando se trata de música, é algo extremamente pessoal para nós,” afirmou. “Realmente precisamos nos sentir conectados com outros artistas. Não acho que seja tão comum encontrar isso, uma combinação perfeita. Mas é sempre muito interessante porque, claro, você vê como outra pessoa trabalha e no processo criativo.”

Show do Måneskin no Espaço Unimed em São Paulo, 2023
Show do Måneskin no Espaço Unimed em São Paulo - novembro de 2023 (Foto: Ricardo Matsukawa / Mercury Concerts)

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Diferente dos outros discos de estúdio do Måneskin, RUSH! e a expansão contam com um número maior de músicas em inglês do que italiano. Isso não é um problema, visto que o grupo sempre fez músicas em inglês (o primeiro single deles foi nesse idioma), desde antes de estourar com “Beggin’.”

Como De Angelis comentou, escrever em italiano foi algo que os integrantes aprenderam ao passar dos anos, mas a presença maior do inglês nas letras se deve muito pelo fato de que, atualmente, eles viajam bastante e, basicamente, falam inglês o tempo todo com as pessoas fora do grupo. Segundo a baixista, eles respiram o idioma todos os dias.

“Foi realmente natural para nós,” disse. “Não foi uma decisão; sempre que estamos em estúdio, nunca decidimos de antemão se queremos fazer algo em italiano ou em inglês. É claro que cada idioma tem diferenças… pensamos que o inglês é melhor para expressar algum tipo de sentimento e para alguns tipos de músicas, enquanto o italiano combina melhor com outros. Nós apenas fazemos isso por instinto.”

Escrevemos mais em inglês porque falamos para um público internacional, então queremos que eles entendam e realmente se conectem com a letra e com o que estamos vendo na música. Sentimos que é assim a forma de comunicação mais forte que temos. Continuaremos sempre com isso.

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Tanto as músicas em inglês quanto em italiano são muito celebradas pelos fãs de Måneskin. Nos shows no Espaço Unimed de 2022 e 2023, o público não demonstrou receio e cantava bastante alto as letras na língua materna da banda - algo bastante legal de se ver, visto que inglês é mais comumente falado ao redor do mundo em relação ao italiano.

Para Thomas Raggi, isso representa o poder da música, porque ela pode alcançar muitas pessoas, sem importar se a letra é em espanhol, inglês, ou francês, segundo o guitarrista. Não apenas na língua das letras, a banda também quer diversificar ainda mais o estilo sonoro.

Boa parte das músicas dos italianos fazem o rock característico deles, mas uma das faixas mais interessantes de RUSH! é “KOOL KIDS,” com um punk digno de Idles, banda britânica-irlandesa formada em 2009 que já passou pelo Brasil.

Esse ampliamento sonoro do Måneskin é algo que eles planejam bastante para o futuro. “Significa que ainda desenvolvemos nosso som. Para nós é muito importante tentar não nos repetir, o que não significa fazer mudanças drásticas ou ficar irreconhecíveis de uma música para outra,” explicou Damiano David.

“Sempre tentamos encontrar novas perspectivas, pontos de vista, inspirações e todo esse tipo de coisa que no final de tudo você coloca na música,” continuou. “Temos sorte porque somos quatro pessoas diferentes com gostos musicais enormes, mas muito diferentes entre si, então temos possibilidades infinitas para a nossa música.”

Para encerrar o assunto, o cantor explicitou como a banda nunca terá medo de fazer algo novo, não apenas aquilo para agradar o público geral ou imprensa. Eles querem “agradar aos nossos ouvidos em primeiro lugar.”

Aproveitando o assunto de não seguir tendências, Måneskin também fez algo incomum em RUSH! ao trazer 18 faixas. Nos últimos anos, o público ficou acostumado a ver álbuns com poucas faixas, com no máximo 10. Sobre isso, Victoria De Angelis sentiu que cada uma das canções do LP representam “corretamente o que tínhamos a dizer naquele momento,” além de soarem completamente diferentes, como “KOOL KIDS” e “IF NOT FOR YOU.”

O álbum inteiro é nossa jornada e cada pedaço dele é um pedaço de nós. Não poderíamos nos preocupar com coisas comerciais sobre fazer menos faixas ou algo assim… simplesmente fizemos o que sentíamos instantaneamente.
Show do Måneskin no Espaço Unimed em São Paulo - novembro de 2023
Show do Måneskin no Espaço Unimed em São Paulo - novembro de 2023 (Foto: Ricardo Matsukawa / Mercury Concerts)

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Adeus, ‘one hit wonder

Um termo bastante popular na indústria da música é “one hit wonder,” designado a artistas que emplacaram uma música de sucesso mundial e depois desapareceu dos holofotes, como Daniel Powter, Survivor e Gotye. O próprio Måneskin foi enquadrado nisso com o sucesso de “Beggin’,” mas conseguiu superá-lo.

Quando questionados sobre como foi superar esse estigma, os quatro integrantes do grupo levaram com leveza o fato sobre serem considerados “one hit wonders.” Por exemplo, Damiano David fez uma piada e riu bastante sobre eles terem lançado dois hits, “two [dois] hit wonders,” enquanto De Angelis afastou a ideia de que eles fizeram nada antes do cover de sucesso.

“Tínhamos dois álbuns com nosso próprio material lançados. Então, todas as pessoas que diziam ‘bem, eles só fizeram essa coisa simples,’ é realmente vazio, porque se você literalmente abrir nosso Spotify, poderá encontrar 20 de nossas próprias faixas.”

Agora são cerca de 40. Claro, estamos muito gratos pela forma como a faixa foi. Por termos colocado tudo de nós no cover, sentimos que estamos em um peso normal em nosso estilo. Mas, ao mesmo tempo, sempre escrevemos músicas originais até o fim.

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Novos ares no rock

Com Måneskin, muita gente jovem começou a ter um contato diferente com o rock, fora daquilo apresentado e “herdado” pelos pais. Os integrantes não concordaram que eles ajudam necessariamente a rejuvenescer o gênero, mas notaram a importância de mostrar esse tipo de som.

“É bom para os jovens nos ver tocando instrumentos analógicos,” disse Thomas Raggi. “Talvez eles possam, você sabe, ter a ideia de comprar uma guitarra ou um baixo, ou tente cantar em seus cenários. Principalmente neste momento da música, é como se você pudesse ter mais de outra opção nas paradas para tentar gostar, deixar-nos tentar tocar um instrumento é algo realmente legal.”

Em seguida, De Angelis explicou como, provavelmente, muitos dos fãs jovens deles não sabem da história do rock: “Hoje em dia, se você não tem seus pais apresentando ou tocando para você, não seria como se você fosse encontrá-lo no TikTok ou na rádio.” Para ela, Måneskin “de alguma forma não apresenta aos fãs o rock [tradicional], mas essa outra abordagem que é como uma curva leve. Não é algo novo, mas para eles é.”

De fato, é muita responsabilidade jogar a salvação do rock e rejuvenescimento dele em apenas uma banda, formada por jovens no começo dos 20 anos, mas eles não deixam nenhum tipo de comentário afetá-los mais, sejam eles positivos ou negativos.

Inclusive, recentemente, ninguém mais ninguém menos que Mick Jagger os definiu como “a maior banda de rock do mundo.” “Tentamos aprender apenas os [cometários] positivos, é claro. É muito lindo quando toda vez temos a oportunidade de ler ‘aquela música é ótima’ ou que de alguma forma nos endossou, mas, por outro lado, quanto mais sucesso você tem, mais criticado você é,” ponderou David.

Então a gente sabe que faz parte do jogo e, na maioria das vezes, [as críticas negativas] nem são algo realmente pensado, mas apenas algo triste de se fazer aos colegas - ou apenas para fazer um caso e fazer as pessoas discutirem sobre isso. Não estávamos muito focados nisso, estamos focados nas nossas próprias coisas. Já tínhamos deixado que essas coisas nos afetassem.