Rolling Stone Brasil
Busca
Facebook Rolling Stone BrasilTwitter Rolling Stone BrasilInstagram Rolling Stone BrasilSpotify Rolling Stone BrasilYoutube Rolling Stone BrasilTiktok Rolling Stone Brasil
Música / Entrevista

Kaiser Chiefs desvenda novo álbum: menção a Noel Gallagher, dedo de Nile Rodgers e aceno aos fãs de todas as eras

Simon Rix falou sobre o oitavo (e nada fácil) álbum de estúdio do Kaiser Chiefs — 'Easy Eighth' — em entrevista à Rolling Stone Brasil

Kaiser Chiefs (Foto: Divulgação)
Kaiser Chiefs (Foto: Divulgação)

Para os fãs do Kaiser Chiefs, os cinco anos entre o lançamento de um álbum e outro podem ter sugerido um hiato, mas a banda nunca parou. Na verdade, ela estava se dedicando à composição do Kaiser Chiefs'Easy Eighth Album, que, como o título indica, é o oitavo álbum de estúdio dos donos do hit "Ruby". Ironicamente, porém, o baixista Simon Rix afirmou em entrevista à Rolling Stone Brasil que não foi um disco tão fácil de ser feito.

Após chamarem a atenção de Nile Rodgers, os ingleses passaram a trabalhar ao lado do artista que, só para exemplificar, forjou "Let's Dance" ao lado de David Bowie. Com a pandemia, o grupo planejava lançar algumas músicas, mas não pensava em álbum, até a chegada de Amir Amor na cena.

O produtor e membro do Rudimental também estava em contato com Rodgers e foi persuasivo o suficiente para convencer o Kaiser Chiefs a fazer um novo álbum: "Ele foi meio que o catalisador, a pessoa que nos fez querer fazer um álbum", admitiu Rix

Kaiser Chiefs (Foto: Divulgação)

Outros músicos, como The Cribs e Hak Baker, também se juntaram ao Easy Eighth. Inclusive, houve menção honrosa a Noel Gallagher em "Noel Groove". O baixista confessou que queria dar outro nome à faixa, mas os parceiros de banda o impediram. Rix não revelou o teor da conversa, mas confirmou que, quando "Noel Groove" recebeu esse título, o grupo estava falando sobre o ex-Oasis

O vocalista Ricky Wilson já apontou que "política é tipo o fator X para pessoas feias" (via The Standard), mas Rix afastou a ideia de que o Kaiser Chiefs está alheio ao que acontece no mundo, citando "I Predict a Riot". "Acho que poderíamos fazer um pouco mais usando nossa plataforma, talvez ocasionalmente, mas é bastante difícil, acho, quando são cinco pessoas. Bono faz um bom trabalho, mas ele fala por si só, não é?", ponderou.

De todo modo, Easy Eighth tem potencial para agradar todos os gostos: "Acredito que, se você gosta do Kaiser Chiefs, não importa de qual era do Kaiser Chiefs você gosta, há uma música nesse álbum para você", garantiu Simon. "How 2 Dance" materializa o olhar para o futuro que a banda conserva, enquanto "The Job Centre Shuffle" acena para os discos mais antigos. 

Em novembro de 2008, Peanut, apelido do tecladista Nick Baines, precisou ser hospitalizado e deixou uma parte de si no Brasil — o próprio apêndice, no caso. Perguntado sobre a possibilidade de uma visita ao país com a turnê do novo álbum, Rix disse: "Não estamos ficando loucos". O diagnóstico fala por si só. Leia entrevista na íntegra:


Rolling Stone Brasil: Sei que é o oitavo álbum de vocês, mas foi fácil fazê-lo?
Simon Rix: Não [risos]. Chamamos de Easy Eighth porque, bom, tem duas ou três coisas. Uma: é realmente difícil. As pessoas ainda soletram "Kaiser Chiefs" errado. Então, "Easy Eighth do Kaiser Chiefs" é difícil de falar e difícil de soletrar. Fizemos meio que um trocadilho. Essa foi uma coisa. Foi como manifestar que queríamos tornar o processo fácil. Em vez de nos estressarmos muito, em vez de torná-lo difícil, pensamos: 'Vamos chamar o álbum de Easy Eighth, vamos fazer isso, vamos ser felizes e nos divertir, e vai ser fácil'. E, tipo, acho que é por isso que demorou tanto. É o maior intervalo entre dois discos do Kaiser Chiefs.

Levar cinco anos para fazer 10 músicas é bem devagar [risos]. Mas queríamos ter certeza de que seria realmente bom. Fico muito estressado com pequenos detalhes e o plano para esse álbum era meio que ficar de boa, aproveitar. Então, fizemos música, nos divertimos, trabalhamos com algumas pessoas interessantes que gostamos. Trabalhamos com Nile Rodgers e os Cribs — que são nossos amigos e estão no disco —, Hak Baker, e, principalmente, Amir Amor, do Rudimental, que produziu [o álbum].

Trabalhamos com pessoas legais que tornaram tudo fácil. Fizemos tudo em termos de gravação. Alugamos um estúdio, arrumamos a bateria, colocamos todos os microfones caros e tudo mais. Mas gravamos algumas coisas na nossa sala de ensaios, algumas coisas eu gravei em casa, foi meio que: 'O que for mais fácil e melhor, vamos fazer desse jeito. No final, a gente resolve. Basicamente, no final, vai dar certo'. E deu, sabe, no final, tudo se encaixa. Isso torna as coisas um pouco mais lentas, eu acho. Às vezes, ser lento é bom e se apressar é uma má ideia. 

Kaiser Chiefs (Foto: Divulgação)

Rolling Stone Brasil: Vocês disseram que vão fazer apenas oito shows para esse álbum. Por que o número oito ou o oitavo álbum é tão importante?
Simon Rix: Bem, isso se torna uma profecia paradoxal. Então, tipo, é o oitavo álbum. Planejamos apenas oito shows para o álbum. Depois faríamos mais alguns shows. Mas já temos mais do que oito shows. Então, não deu muito certo. Mas é engraçado quando você tem uma ideia e... Estávamos tipo: 'Ok, queremos fazer oito shows para a turnê do álbum pelo Reino Unido. Essa é a ideia". Nosso agente nos mandou uma lista com nove shows e ficamos tipo: 'Não, não, não, não! Queremos fazer oito shows. A coisa toda é fazer apenas oito shows'. Ele acatou e desistimos de um show. E depois vamos fazer algumas participações na TV. No final, são apenas sete shows [risos]. Mesmo assim, é realmente, realmente difícil ter uma ideia, mesmo uma ideia simples assim, e depois fazê-la acontecer. Eu não entendo. Na verdade, serão oito shows, movemos um para o verão, em junho, e vamos fazer alguns festivais.

Como eu disse a outras pessoas mais cedo. Tenho certeza de que você vai perguntar: estamos fazendo apenas Europa neste ano? Não estamos ficando loucos. Vamos deixar o disco chegar lá, as pessoas ouvirem. E então, em 2025, vamos fazer muitas turnês.

Rolling Stone Brasil: Então você pode dizer se vem ao Brasil no ano que vem?
Simon Rix: Sim! Será no ano que vem. Vamos fazer muitas coisas especiais no próximo ano e o Brasil é um dos melhores países de se visitar. Muita gente gosta do Kaiser Chiefs aí, tivemos ótimos shows no Brasil, então, definitivamente tentaremos... Quer dizer, definitivamente vamos adicionar à nossa agenda. Mal posso esperar.

Rolling Stone Brasil: Como foi trabalhar com Nile Rodgers e Amir Amor? Como decidiram fazer isso?
Simon Rix: Foi ótimo! O que aconteceu é que, antes da pandemia, fizemos alguns shows em parques, em festivais... Nile estava tocando nos mesmos lugares que a gente e ele disse, por nosso agente, que ele gostava da gente e que ele adoraria trabalhar conosco, o que foi muito legal, porque ele é uma lenda. Acho que ele viu algo da gente nele. Quando você vai a um show do Nile Rodgers, é tudo sobre aproveitar, certo? E quando você vai a um show do Kaiser Chiefs é tudo sobre aproveitar. Acho que ele viu semelhanças entre a gente. 

Kaiser Chiefs (Foto: Divulgação)

E quando entramos no estúdio, era tudo sobre fazer um álbum que fosse divertido. Então veio a COVID, o que foi um baque. Estávamos pensando que, quando a COVID terminasse, só queríamos lançar algo, porque já tinha passado um tempo. 'Vamos lançar tipo duas músicas ou algo assim, duas ou três músicas, um pouco de música'. Então trabalhamos com Nile e fizemos umas músicas. Foi ótimo. Mas aí Amir estava produzindo músicas com Nile e ele disse: 'Adoraria fazer isso. Se vocês quiserem fazer mais música, estou dentro'.

Foi só nesse ponto que pensamos: 'Ok, vamos fazer um álbum'. Então, ele foi meio que o catalisador, a pessoa que nos fez querer fazer um álbum. Ele deve ser muito bom de se trabalhar, porque meio que nos convenceu a fazer um disco. E sim, foi bom. Ele estava muito ocupado. Às vezes era difícil, porque entrar no estúdio e encontrar tempo para fazer isso era difícil. Uma das razões pelas quais demorou tanto é porque todos estavam ocupados com projetos diferentes. Trabalhávamos por um mês, e depois nada aconteceria por dois meses, e assim por diante.

Kaiser Chiefs (Foto: Divulgação)

Foi incrível poder relaxar um pouco. Escrevemos muitas músicas, porque demorou tanto, estávamos constantemente escrevendo músicas. Enviávamos para Amir ou para Nile e perguntávamos o que achavam. Eles diziam o que era bom, o que era ruim ou o que poderia ser melhor. Aos poucos, encontramos 10 músicas, gravamos, aperfeiçoamo-nas... Foi uma das minhas experiências favoritas.

Rolling Stone Brasil: O álbum de estreia do Kaiser Chiefs foi lançado há quase 20 anos. Ainda assim, vocês mencionaram em outras entrevistas que estão sempre olhando para frente. Qual o segredo para manter a banda unida depois de tantos anos?
Simon Rix: Talvez estar sempre olhando para frente [risos]. Acho que, quando éramos mais jovens, passávamos cada segundo do dia juntos. Éramos, eu acho, melhores amigos e fazíamos tudo juntos, tivemos todo esse sucesso juntos. E isso foi bom. Mas, à medida que envelhecemos, as pessoas formam famílias, fazem outras coisas. Somos muito bons em respeitar isso, ajudar uns aos outros e tudo mais. Mas quando nos reunimos, sempre é divertido. Sempre nos fazemos rir.

Acho que conhecemos os pontos fortes e fracos uns dos outros. Se você trabalha em qualquer outro emprego, como em uma fábrica, diferentes pessoas têm habilidades diferentes. E acho que, porque estamos juntos há muito tempo, meio que sabemos quem é bom em quais trabalhos e o que as pessoas gostam e não gostam. Então, apenas tentamos não discutir, tentamos ser legais uns com os outros. E sim, acho que ser organizado, ser educado, ser claro... Tudo isso ajuda. É como ter uma namorada ou namorado. Você só tem que lidar com as partes ruins e aproveitar as boas.

Rolling Stone Brasil: Como você descreveria o Easy Eighth? Mesmo sempre olhando para frente, acha que esse álbum acena, de alguma forma, aos discos mais antigos?
Simon Rix: Com esse álbum, acho que é como os maiores sucessos do Kaiser Chiefs. Então, acredito que há algumas músicas lá, como "The Lads", "Jealousy", "Reasons to Stay Alive" e talvez "Beautiful Girl" também... Essas poderiam estar nos primeiros discos do Kaiser Chiefs, como Yours Truly, Angry Mob, o segundo álbum. Ou acho que há músicas, como "Burning In Flames", que poderiam estar em Stay Together, eu acho. E depois, algumas outras músicas, como "The Job Centre Shuffle", têm um pouco do antigo Kaiser Chiefs, mas também são bastante modernas. "How 2 Dance" é diferente de qualquer coisa que já fizemos antes, eu acho. Então, tipo, acredito que, se você gosta do Kaiser Chiefs, não importa de qual era do Kaiser Chiefs você gosta, há uma música nesse álbum para você.

Rolling Stone Brasil: As músicas do Kaiser Chiefs já fazem parte da cultura inglesa, mas vocês parecem não gostar de falar muito em público sobre política, por exemplo. Por quê?
Simon Rix: Às vezes falamos, tipo em questões muito importantes como o Brexit, ou como embaixadores da Anistia Internacional... Falamos algumas coisas relacionadas à situação dos refugiados na Grã-Bretanha, sabe, a maneira como essas pessoas são maltratadas, eu acho. Então, falamos ou fazemos campanha sobre certas coisas que nos interessam muito, em termos de... Você quer dizer nas músicas ou pessoalmente? Porque nas músicas, sinto que sempre fizemos comentários sociais. Não necessariamente política, mas sobre como as coisas são. Então, "I Predict a Riot" é tipo: aqui está como é em uma noite de sábado no centro de Leeds. Ou "The Angry Mob", que é tipo: aqui está o que os jornais fazem. Acho que em Education, Education, Education & War, o quinto álbum, há bastante material político sobre guerra e todas essas coisas.

Acho que gostamos de observar e falar sobre o que está acontecendo sem, tipo... Não acho que seja meu trabalho dizer às pessoas o que pensar. Acho que se você explicar às pessoas a situação... Espero que elas formem sua própria opinião e façam a escolha certa. Acho que, como eu disse, as únicas vezes em que sinto que realmente saímos dessa caixa foi em algo como o Brexit, quando as pessoas estavam sendo um pouco enganadas.

Acho que poderíamos fazer um pouco mais usando nossa plataforma, talvez ocasionalmente, mas é bastante difícil, acho, quando são cinco pessoas. Bono faz um bom trabalho, mas ele fala por si só, não é? Eu sempre me pergunto se estou falando por todos. Aí fica difícil, porque, sei lá, acho que todos nós temos opiniões semelhantes, mas não exatamente iguais, sabe? Talvez seja mais uma razão pela qual ainda estamos juntos, porque não fazemos muito isso.

Kaiser Chiefs (Foto: Divulgação)

Rolling Stone Brasil: Você disse que "Noel Groove" pode ser sua música preferida do álbum. Pode me explicar o porquê? E de onde veio esse nome?
Simon Rix: Ah, eu realmente gosto de "Noel Groove". Mas sim, "Noel Groove" é ótima, o riff é muito bom, o ritmo é contagiante e tem esse auge sinistro que acho que todas as melhores músicas do Kaiser Chiefs têm, e os Cribs, que são uma banda da Inglaterra e são nossos amigos, cantam no final, então eu gosto disso, é legal.

Acho difícil quando alguém pede para escolher uma música favorita, porque acabei de terminar de fazer esse álbum, então eu provavelmente gosto de 8 dessas músicas, sabe, realmente, muitas delas, então é difícil escolher uma.

Chama-se "Noel Groove" porque, quando escrevemos músicas, eu gravo, então ensaiamos, e eu gravo tudo no meu computador, e depois passo por tudo, tipo: 'Essa parte é boa, aquela música é boa, esses dois compassos são o que quer que seja, esses acordes, isso é bom, aquilo é ruim'... Mas eu tenho que rotular tudo, então tudo é chamado de tipo "Funk Jam 2" ou sei lá. Às vezes, se Ricky está cantando, pode ser algo que ele está cantando. Então, eu tenho que nomear tudo.

Por alguma razão, acho que porque estávamos falando sobre o Noel Gallagher no ensaio, eu rotulei como "Noel Groove", e depois ficou. Eu estava desesperado para não chamá-la de "Noel Groove", porque eu sabia que estaria dando entrevistas, e as pessoas perguntariam, por que se chama "Noel Groove", e eu não teria uma boa razão. Então, eu queria chamá-la de "In Another Lifetime" — acho que é um bom nome — ou de "Lighting With Intent", que eu não gostava tanto, mas achava que estava ok. Ambos são letras da música, mas ninguém deixou eu mudar, então ainda se chama "Noel Groove", e agora é tarde demais.