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Música / Entrevista

Jota.pê se traduz como nunca antes em segundo álbum, Se Meu Peito Fosse o Mundo

Primeiro álbum solo do cantor e compositor após nove anos, traz musicalidade contemporânea cheia de referências e letras marcantes

Jota.pê (Foto: Taís Valença)
Jota.pê (Foto: Taís Valença)

Para muitos Jota.pê pode ser um nome novo no cenário musical. A carreira do cantor e compositor, no entanto, tem mais de uma década. Sozinho ele lançou em 2015 o álbum Crônicas de um Sonhador, além de diversos singles e do EP Garoa (2021). Com o ÀVUÀ - duo que forma com Bruna Black — lançou Percorrer em Nós (2022).

Neste ano, chegou a vez de olhar para a carreira solo com mais carinho e maturidade. Para isso, o artista nos brindou com Se Meu Peito Fosse o Mundo (2024). Lançado originalmente como um EP no ano passado, o álbum nos apresenta um Jota.pê maduro e seguro da própria arte. 

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A estratégia de lançar a obra primeiro como um EP e, posteriormente, ampliando para o disco como vemos, remonta à época dos vinis. A ideia veio a partir de uma sugestão do produtor musical do projeto, Marcus Pretto, segundo conta o artista em entrevista à Rolling Stone Brasil.

A recepção da primeira metade foi bem recebida pelos fãs e deixou o artista satisfeito. “Apresentou bem o conceito sonoro e o texto, que é uma coisa que sempre me preocupa,” conta. A faixa que abre o disco “Tá Aê” dá o tom da obra, Jota.pê olhando para dentro e nos convida a fazer o mesmo.

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“Eu admito que me surpreendi com o lançamento do disco completo porque na primeira metade recebi muitas mensagens de fãs, músicos e até gente que não me conhecia, mas nessa segunda mensagem isso aumentou muito.” conta. Até o rapper Emicida entrou em contato com o compositor para parabenizá-lo pela obra.

O hiato de nove anos entre um álbum e outro tem duas razões relativamente simples, segundo Jota.pê: “maturidade e dinheiro.” Ele conta que na época em que lançou Crônicas, viver de música ainda era um sonho e “achava que para ser artista tinha que lançar um disco.”

(Foto: Taís Valença)

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Ele então pegou as composições que havia feito até o momento e reuniu em um álbum que ele achava que estaria pronto em duas semanas. O processo, no entanto, levou dois anos. 

Foi um disco que eu quase não opinei na produção, só entreguei as músicas e deixei rolar. Quando ficou pronto eu comecei a me perguntar ‘será que esse disco me representa mesmo?’

A partir desse momento Jota.pê passou a se questionar sobre o artista que queria ser. Ele passou a estudar o que gostaria de falar, instrumentação de banda, entre outras coisas que o levaram a ser quem conhecemos hoje. “Eu canto muito diferente, se você ouvir o primeiro disco e a gravação de agora, são dois artistas completamente diferentes.”

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Pensando nisso, o segundo álbum não poderia ter vindo em momento mais oportuno. Jota.pê se mostra mais a vontade com a música e com todos os processos por trás da produção das canções.

“Quando você quer ser um artista que quer demonstrar personalidade no trabalho, é preciso saber quais caminhos seguir,” define o cantor sobre o atual momento. A qualidade técnica do som de Jota.pê é uma prioridade para ele.

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Na MPB pode tudo

Pergunto sobre como ele define a própria música e o cantor conta gosta de dizer que faz MPB, porque “na MPB eu meio que descobri que pode tudo,” brinca. “Quando você olha a obra de Gilberto Gil, do Caetano, do Lenine, você vê que tem tudo: rock, reggae, samba e eles são artistas de MPB e todo mundo aceita.”

Ele conta que teve bandas de rock no passado e é um grande fã de rap. Mas como disse Xênia França no show de lançamento do álbum, Jota.pê tem um cuidado muito grande com a música brasileira. Apesar disso, ele não se considera um estudioso. 

Eu me considero, sim, muito carinhoso com a música que eu faço, porque eu amo essa parada. E eu sempre fui muito cuidadoso com o meu trabalho porque é o que eu quero fazer para o resto da vida.

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As composições dele são inspiradas pelos mais diversas fontes. “Principalmente das conversas que eu tenho com outras pessoas,” explica. Ele se classifica como alguém que absorve muito das relações. 

Tudo que o afeta demais também vira música. E o processo é terapêutico. “Quando estou muito incomodado, ou muito feliz, com algum sentimento intenso que chega a incomodar, eu componho uma música sobre aquilo e passa.” 

(Foto: Taís Valença)

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Inspirações

Se Meu Peito Fosse o Mundo foi bastante influenciado por artistas que Jota.pê acompanha e admira. A cabo-verdiana Mayra Andrade foi uma delas, a levada rítmica e a guitarra de Cabo Verde influenciaram fortemente o artista.

Tem duas músicas que só existem por causa dela, que são ‘Tá Aê’ e ‘Feito a Maré’, que fiz estudando a Mayra Andrade.

O álbum de Tom Misch, Geography (2018), também o inspirou. “Ele canta muito bem e toca muito bem e, ao mesmo tempo, é muito pop e acessível. Este disco é muito marcante para mim.” Um exemplo disso é a parte instrumental de “Caminhos”, que, assim como algumas canções do músico britânico, dá protagonismo a outro elementos, que não a voz do cantor em alguns momentos.

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O álbum AmarElo (2019), de Emicida também é uma das inspirações. Sobre o artista, Jota.pê conta que o rapper o influencia no palco e fora dele. “Mexe muito com jeito de me posicionar artista no mundo.”

Se Meu Peito Fosse o Mundo

Apesar das composições de Jota.pê virem de forma espontânea e a partir dos sentimentos na maior parte das vezes, o álbum foi um projeto totalmente pensado desde o princípio. A começar pelo nome, que segundo explica o cantor “foi a primeira coisa que surgiu.’

Eu precisava fazer um álbum que me traduzisse como nada nunca traduziu, entender que som é esse e, nesse processo, eu fui para caminhos diferentes: estudar músicas de artistas que tenham a ver com o que eu quero propor. E assunto, porque eu sou muito do texto.

O título do disco vem de um verso de “Garoa” - faixa que integra a obra - que diz “Faz de conta / Que teu peito agora é o mundo / E nele lá no fundo / Qual é tua questão?” Foi então que o artista refletiu sobre o que teria para dizer se o peito dele fosse um mundo. 

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Marcus Pretto que, segundo o próprio, se convidou para fazer parte do projeto, ficou responsável pela direção musical. Jota.pê conta que ele foi essencial para o resultado do álbum e ajudou no entendimento de muitas coisas.

Já a produção, ficou por conta de Felipe Vassão e Rodrigo Lemos. “Eu já tinha vontade de ter dois produtores nesse álbum para ter mais possibilidades. Uma coisa que eu queria muito era flertar com o rap.”

Eu já tinha feito algumas com o Lemos no ÀVUÀ e eu gosto do jeito como ele entendia algumas coisas. Ele é meio doido tem umas ideias harmônicas estranhas, eu gostava. E o Vassão, tudo que eu gosto do Emicida, ou quase tudo - eu gosto de muita coisa dele - foi o Vassão quem produziu.

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O álbum foi apresentado pela primeira vez em um show na Casa Natura, em São Paulo, em março. Jota.pê conta que estava animado e ansioso para ver como seria a recepção dos fãs ao espetáculo.

“Fizemos muitas coisas diferentes do disco, com mudança de arranjo, emendando uma música na outra, tocando atabaque no meio. Estava a fim de saber como seria a recepção do público,” conta o artista, que revelou ainda que estava com febre no dia da apresentação, mas não sentiu enquanto estava no palco.

(Foto: Taís Valença)

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Marca registrada

A estética é uma preocupação do artista e o chapéu é uma marca registrada. Os acessórios vêm antes da vida artística, ele usa desde o colégio, mas com o passar do tempo e entendendo o mercado, Jota.pê entendeu que a assinatura poderia ser um diferencial. 

Isso se mostra também na capa do álbum. Inicialmente a partir de uma provocação de Marcus que disse que todos sabiam que ele lançaria um disco, mas não era o primeiro. “Ele disse que era importante demonstrar visualmente o que veio antes e onde eu queria chegar.”

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A partir disso, Taís Valença, fotógrafa, stylist e diretora criativa, sugeriu uma referência à capa de Alumbramento (1980) de Djavan. Outra referência foram as pinturas do norte-americano Barkley L. Hendricks. A união desses elementos deságua na capa marcante do disco.

Nesse momento, o duo do qual Jota.pê faz parte, o ÀVUÀ segue com agenda de shows, inclusive no festival Doce Maravilha, mas para dar conta da divulgação do álbum — Bruna também prepara um disco solo — os lançamentos serão pausados.

(Foto: Taís Valença)

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Se Meu Peito Fosse o Mundo ganhou chegou para mostrar, não só uma nova fase na carreira de Jota.pê, mas a evolução de um artista que se dedica — e ama — a música brasileira. Ele conta que está empolgado para levar o disco para estrada. Da plateia, nós também não podemos esperar para ver o trabalho ganhar o mundo.