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Gilberto Gil é uma fusão entre Luiz Gonzaga e Bob Marley [ANÁLISE]

Conhecido por transitar entre gêneros musicais, Gilberto Gil reunia as melhores qualidades de músicos icônicos como Luiz Gonzaga e Bob Marley

Russo Passapusso Publicado em 08/02/2023, às 14h52

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Luiz Gonzaga (Foto: Reprodução/luizluagonzaga.com.br), Gilberto Gil (Foto: Fernanda Tiné) e Bob Marley (Foto: Michael Ochs Archives/Getty Images/Via Rolling Stone EUA)
Luiz Gonzaga (Foto: Reprodução/luizluagonzaga.com.br), Gilberto Gil (Foto: Fernanda Tiné) e Bob Marley (Foto: Michael Ochs Archives/Getty Images/Via Rolling Stone EUA)

A primeira vez em que ouvi Gilberto Gil foi quando eu morava no sertão, em Senhor do Bonfim, Norte da Bahia, É engraçado, porque eu achava que ele era de lá também. Minha grande paixão por ele vem disso. O êxodo de sair de Senhor do Bonfim e ir primeiro para Salvador, depois ir para São Paulo e Rio, conhecer o Brasil, viajar pro exterior fazia com que parecesse que ele estava em todo o lugar, como se ele falasse todas as línguas.

Já o Gil tocando, a primeira vez foi pela televisão, no Unplugged da MTV. Ali, entendi um monte de coisas: a naturalidade musical, a coisa crua, a composição pela composição, os arranjos, o violão sempre presente, a influência do João Gilberto e do sertão. E eu entendi como aquilo que eu estava vendo era a síntese disso tudo. E lembro de que o primeiro show dele que vi foi na Concha [Acústica] aqui em Salvador. Mas foi muito desencontrado, porque eu estava tocando num soundsystem que fazia um esquenta do lado de fora, para quem tava chegando no show. Mas a gente brincava que era como se a gente estivesse tocando com Gil.

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Ele sempre foi uma referência de carreira para mim, não só pela coisa do sertão, da sanfona, mas também pelo reggae. Nessa época, entendi que Gil não era só o cara do forró, mas também do reggae. Era como se Luiz Gonzaga e Bob Marley fossem a mesma pessoa, que uma hora era mais rural, em outra era mais urbano. Por isso que gosto tanto do Refazenda e do Refavela, que são uma construção muito forte para a minha vida. São discos que falam do êxodo, do interior, do sotaque e da capital, do urbano. Isso fazia com que a gente nunca se sentisse de fora. Porque Gil também tem isso, de trazer muito para dentro, de não fazer a gente se sentir menosprezado.

A primeira coisa que bateu pesado para mim não foi um disco ou uma música, mas uma frase, porque é um jeito que gosto de analisar as composições – buscar uma frase que me pegue e que eu possa usar para vida inteira. E quando ele cantava que “o melhor lugar do mundo é aqui e agora” [de “Aqui e Agora”, do álbum Refavela], isso me pegou de vez. Gosto de carregar essas frases como tatuagens, para a vida toda.

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A gente estava fazendo um show no mesmo lugar em que Gil também ia tocar, e a galera me chamou para ir ao camarim dele. Fiquei sem saber se ia, aquela agonia, mas fui. Quando cheguei, vi que ele estava fazendo um exercício de voz tão simples, que eu fiquei simples também. Foi quando descobri a genialidade do simples.

Ele fez um exercício, bebeu água e ficou conversando comigo naturalmente. Fiquei falando de artistas que gostava, como Paulo Diniz, Rosinha de Valença, Luli e Lucina, Cátia de França... Como se eu estivesse mostrando meus discos de vinil para ele. E falei de um sonho que eu tinha, que era fazer um disco com Antônio Carlos e Jocafi, e que se fizesse, queria que ele ouvisse e, de repente, participasse. Até que, em 2022, eu não só consegui gravar um disco com Antônio Carlos e Jocafi, como consegui que Gil cantasse em uma das músicas, “Mirê Mirê”.

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Quando eu lembro disso, e que eu tenho um disco ao vivo com Gil, eu quase não acredito, é muito avassalador. O álbum do BaianaSystem com o Gil, que a gente fez em 2020, não foi gravado para ser um disco ao vivo. A gente gravou para estudar o show, ver como seria, de repente, gravar um disco ao vivo. Mas aí veio a pandemia, quando todo mundo começou a falar de live disso e daquilo... E eu brincava que ao vivo não é live, e com isso acabamos lançando esse primeiro registro como um disco ao vivo mesmo.

Fiquei impressionado ao tocar com ele – como ele era apaixonado pela passagem de som. Ele é incrível, mantém a energia do show e sabe como aquilo é importante. Ele gosta, passa o som de novo, como se estivesse temperando, amando o público antes mesmo de o público chegar. Foram quase duas horas de passagem, mais tempo até do que o próprio show. Deu problema no som e ele ficou lá, em pé – e eu ali impressionado de que ele ia ficar esperando tanto tempo. Gil lá, com quase 80 anos, sob um sol de derreter. Isso é um amor imenso.

Rolling Stone Brasil Especial 80 Anos de Música
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