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Pânico VI empolga, mas expõe lugar-comum da franquia [CRÍTICA]

Direção dinâmica de Matt Bettinelli-Opin e Tyler Gillett garante bons momentos e inova, mas não salva sequência da sensação de esgotamento

Eduardo do Valle Publicado em 09/03/2023, às 12h00

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Imagem Pânico VI empolga, mas expõe lugar-comum da franquia [CRÍTICA]

Em um dos bons diálogos de Pânico VI, a repórter veterana Gale Weathers (Courteney Cox) se vê confrontada pela personagem Kirby Reed (Hayden Panettiere). Sobrevivente adolescente em Pânico 4 (2011), Reed retorna para a história, agora adulta, como agente do FBI, despertando em Weathers um desdém irresistível por sua nova autoridade. É um embate geracional que acena também para fora da tela, como se o passado e o presente da franquia estivessem aqui em franca rota de colisão.

Pânico VIdá sequência à história iniciada em 1996, pelo diretor Wes Craven e pelo roteirista Kevin Williamson. À época, o desgaste do gênero slasher (quando o vilão é um serial killer) abriu espaço para que o filme, repleto de sacadas inteligentes, prosperasse.

A ideia de piscar para o espectador com metacomentários geralmente sarcásticos sobre o status quo do cinema de terror acabou redefinindo os filmes de suspense que viriam na sequência — incluindo suas próprias continuações, que beberiam ostensivamente da fonte do original. Ao listar as regras do horror com um roteiro bem-humorado, Pânico as atualizou.

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Nas quase três décadas seguintes, quatro sequências da história dariam conta de, mais ou menos, repetir a fórmula do original: Pânico 2 (1997) seria um comentário sobre sequências; Pânico 3 (1999), falaria de trilogias, mas também anteciparia em pelo menos uma década o debate sobre a violência contra a mulher em Hollywood; Pânico 4 (2011), o último dirigido por Wes Craven, seria uma análise precoce sobre a cultura do influencer; e Pânico (2022) retomaria a franquia pelas mãos dos diretores Matt Bettinelli-Opin e Tyler Gillett, com olhares sobre os fandoms tóxicos. E é nesse sentido que Pânico VI destoa dos anteriores.

Mais dinâmico que outras sequências até agora, Pânico VI introduz um necessário novo ritmo à franquia. Com o roteiro baseado em Nova York, ele se aproveita do ritmo frenético da cidade para apresentar um novo elemento à história: a sensação real de que o vilão pode estar em qualquer lugar, em qualquer momento.

Assim, o elenco liderado por Jenna Ortega e Melissa Barrera (as irmãs Tara e Sam Carpenter, sobreviventes do quinto filme) se vê diante da encarnação mais assustadora do assassino Ghostface até aqui.

Pânico VI
Cena de Pânico VI (Foto: Divulgação/ Paramount)

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Ao retomar o equilíbrio entre suspense e humor (que pesava mais para cá do que para lá desde Pânico 3), o roteiro de Guy Busick e James Vanderbilt dá espaço para que a tensão retorne à história. A isso, soma-se a direção de Bettinelli-Opin e Gillett, que já se provara para lá de competente no quinto filme, de 2022, que arrecadou US$ 140 milhões na bilheteria global — e acabou, ultimamente, recebendo a luz verde para esta sequência pouco tempo após o lançamento.

Com uma nova visão sobre a franquia e com adições competentes ao elenco (com destaque para Devyn Nekoda como Anika Kayoko e Liana Liberato como Quinn Bailey, além do retorno de Panettiere como Kirby Reed), Pânico VI poderia ser a melhor sequência de Pânico até agora. Não fosse dificuldade no roteiro, que passa a olhar mais para sua própria história do que para o cinema de horror em si. É o passado, voltando para aterrorizar a trama de Ghostface.

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Ao abusar da autorreferência, com diálogos inteiros de filmes anteriores da franquia praticamente transcritos no roteiro, Pânico VI perde a oportunidade de comentar um dos momentos mais interessantes do cinema de horror: 2022 foi o ano do terror viral, com filmes bons e menos bons, como Terrifier 2 e Barbarian; além disso, foi também a era das grandes jogadas de marketing no horror, como em Sorria.

Em vez de olhar para fora, porém, Pânico VI olha para dentro; ou melhor, para o passado, com excessivas referências a personagens anteriores, como Dewey Riley (David Arquette), Randy Meeks (Jamie Kennedy) e até mesmo Sidney Prescott (a protagonista vivida por Neve Campbell, ausente pela primeira vez na franquia). Não que seja ruim ouvir estas referências novamente. Ao abusar delas, porém, Pânico VI perde a oportunidade de criar novas conexões com novos personagens — e mesmo de fazer algumas escolhas ousadas em relação a alguns que já conhecemos, como Chad e Mindy Meeks (vividos por Mason Gooding e Jasmin Savoy Brown). Ao fim do filme, a sensação é de um 0 x 0, como se toda a ação retornasse exatamente ao ponto de partida.

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Não há dúvidas de que Pânico VI vai ser celebrado como uma das sequências mais inovadoras da franquia. Segundo o ScreenGeek, o filme já teria sido instrumental na aprovação de uma nova produção, inclusive. Em termos de história, porém, a sequência acaba ficando em um lugar-comum.

E, se o filme ainda garante excelentes sequências de tensão, ele não parece o mesmo título que revolucionou o horror dos anos 1990. Talvez em vez de tanta autorreferência, Pânico exija agora certa autocrítica em relação a si próprio. É hora de reescrever as próprias regras.

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