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Sons Políticos

Os Dias Eram Assim retrata época por meio de história, música e amores

Stella Rodrigues Publicado em 20/04/2017, às 16h27

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<b>Escavação Musical</b><br>
Maria, Oliveira, Góes, Sophie e Leone gravando o tema de abertura - Globo/Sergio Zalis/Divulgação
<b>Escavação Musical</b><br> Maria, Oliveira, Góes, Sophie e Leone gravando o tema de abertura - Globo/Sergio Zalis/Divulgação

Impossível falar de série da Globo e época da ditadura sem lembrar de Anos Rebeldes, um grande sucesso da grade de programação do canal nos anos 1990. Mas a associação acaba aí. O cenário é o mesmo, mas o enfoque de Os Dias Eram Assim, nova supersérie da emissora, é muito mais na trama, deixando o drama político de pano de fundo. Com direção artística de Carlos Araújo, a história ambientada no Rio de Janeiro entre as décadas de 1970 e 1980 se desenrola entre a repressão e o movimento Diretas Já e mostra a vida de pessoas comuns afetadas pelo difícil contexto brasileiro.

Escrita pela dupla Angela Chaves e Alessandra Poggi e com Sophie Charlotte, Caio Blat, Daniel de Oliveira, Renato Góes, Gabriel Leone e Maria Casadevall no elenco, a narrativa começa em 21 de junho de 1970, no dia da final da Copa do Mundo no México, que a seleção brasileira venceu. Renato (Góes) é médico e está tocando a vida mesmo em um período com tantas incertezas. O irmão dele, Gustavo (Leone), é mais engajado e está presente nas ruas, lutando contra o regime. Alice (Sophie) é filha do conservador Arnaldo (Antonio Calloni), dono de uma construtora que faz obras para o governo. Ela se apaixona por Renato, apesar de namorar Vitor (Daniel de Oliveira), que trabalha com o pai dela e já é tido como praticamente um herdeiro do negócio da família. “Vamos acompanhar a vida deles atravessando os anos de chumbo, passando pela anistia política e chegando até a campanha pelas Diretas Já, em 1984, ano em que a maior parte da trama se concentrará”, conta Alessandra Poggi. “O folhetim está sempre em primeiro plano, mas os personagens estão inseridos num contexto histórico importante e lutam, cada um à sua maneira, pelos ideais em que acreditam”, completa Angela Chaves.

Para quem é fã e estudioso de história, a série é um prato cheio, mesmo que tente fugir das comparações a Anos Rebeldes, colocando a política em segundo plano. Mas quem é pesquisador de música estará diante de um verdadeiro banquete. Esse foi o caso do diretor musical Vitor Pozas, que, ao lado de Eduardo Queiroz, foi responsável por estudar as canções da era retratada (anos 1970 e 1980) e trilhar as cenas com composições daquela época. O trabalho musical é tão bem cuidado que esta será a primeira produção das 23h da Globo a ganhar disco físico (um disco duplo, aliás). “Tínhamos uma sinopse e começamos a pesquisar sobre essas décadas aqui e no exterior. Fizemos listas, fomos ouvindo e selecionando as faixas”, ele conta. “A lista ficou enorme e fizemos um funil. Escolhemos dar uma cara mais rock, no geral. Mas tem Novos Baianos, Secos e Molhados, essa praia de contracultura”, ele conta, revelando que ainda está em negociação para poder utilizar alguns fonogramas estrangeiros. “Eles são sempre mais desafiadores, porque lá fora eles não entendem nossa forma de fazer trilha aqui, com remuneração pelo Ecad [Escritório Central de Arrecadação e Distribuição]”.

“Falar da trilha sonora de Os Dias Eram Assim é falar da supersérie”, define o diretor da produção, Carlos Araújo. “Existe muita personalidade nela, é um retrato de um momento artístico da época, a busca de uma identidade nacional, algo que nos aproximasse de nós mesmos. Resolvemos reverenciar esse movimento com fonogramas originais e regravações com artistas contemporâneos. Acredito que ela vá bater fundo no coração das pessoas, como bateu no nosso durante o processo.”

Uma das preocupações na montagem da trilha foi trazê-la para as novas gerações. A solução mais eficaz foi a de chamar artistas de hoje para gravar esses sucessos do passado. Johnny Hooker, por exemplo, foi encarregado de dar uma nova cara para “Como Vai Você”, de Antonio Marcos, e Tiago Iorc foi escalado para renovar “Tempo Perdido”, da Legião Urbana. Apesar do esforço que há para situar o espectador, a trilha acabou ganhando um ar atemporal, na opinião de Pozas. “Tem um pouco a cara dos anos 1970 e 1980 [as décadas representam duas fases diferentes na trama], mas não ficamos presos a isso”, ele conta.

Um dos destaques musicais está logo na abertura. A faixa “Aos Nossos Filhos”, de Ivan Lins, foi regravada pelo próprio elenco. Daniel de Oliveira, Sophie Charlotte, Gabriel Leone, Renato Góes e Maria Casadevall emprestaram a voz para a versão.

“Foi uma loucura esse convite, mas topei na hora”, conta Oliveira, que na ocasião tinha acabado de encerrar o trabalho de gravação do primeiro disco da carreira, em São Paulo. “Coincidiu de ser em um momento em que eu estava muito nesse universo da música. É sempre interessante entrar em um estúdio para testar outra linguagem.” Sophie, esposa de Oliveira e par romântico dela na trama (e que também canta em uma canção do disco do marido), diz que hoje tem outra relação com a faixa. “Não lembro exatamente quando a ouvi pela primeira vez, mas quando o [diretor] Carlinhos nos convidou para cantá-la na trilha eu, obviamente, estabeleci um outro tipo de vínculo com ela. Quanto mais ouvia, mais me apaixonava por ela e via possibilidades e significados nessa letra, por causa do momento do Brasil na época em que a trama se passa”, analisa. “Você quer honrar essa música do Ivan Lins, que foi eternizada na voz da Elis Regina. Cantar, para mim, é uma exposição muito grande, é diferente de atuar, então fiz com muito carinho.” Maria Casadevall sentiu a experiência de forma semelhante: “Cantar foi uma mistura de desespero e amor, mesmo, porque eu tenho uma relação com o canto de muita admiração e muito amor, mas nunca consegui estudar como gostaria”, diz. “Sempre me encontro com o canto de alguma forma na minha vida, mas esse foi mais um encontro provocativo.”