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Nas Novelas da Vida

Em evidência pelo personagem mais ousado da carreira, Carolina Dieckmann atinge a maturidade falando o que pensa, escancarando a vida pessoal e batendo - de leve - em quem a critica

André Rodrigues Publicado em 03/01/2012, às 11h35 - Atualizado em 04/05/2012, às 17h59

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Carolina Dieckmann - Mauricio Nahas
Carolina Dieckmann - Mauricio Nahas

Carolina Dieckmann é a anti-João Gilberto.

Enquanto o muso baiano da MPB vive recluso no bairro do Leblon há tanto tempo que há quem duvide de sua existência, a atriz carioca aparece em todos os lugares a todo instante. Nos últimos 20 anos, ela teve a vida escancarada em capas de revistas, programas de fofocas e nos corredores da única emissora em que trabalhou, a Rede Globo. Loira de olhos claros, com um corpo mignon e rosto de estrela de filme de Hitchcock, Carolina já foi uma das queridinhas do Brasil. Mas após um episódio envolvendo a trupe de um programa humorístico da emissora concorrente, caiu em desgraça e até hoje tem que responder perguntas sobre sua “famosa chatice”.

Vídeo: assista ao making of da sessão de fotos com Carolina Dieckmann

Contra as críticas e xingamentos, Carolina diz preferir o fair play do que o revide. Atualmente, atravessa as noites dos brasileiros como a periguete Teodora, na novela Fina Estampa, de Aguinaldo Silva. Aos 33 anos, ela ganhou três quilos de músculos para interpretar uma “maria-tatame”, espécie feminina que tenta caçar seu dote nos ringues de luta. Após alguns golpes frustrados, Teodora começa a mostrar que pode surpreender seus algozes. Na vida real, também tem sido assim: mais forte do que nunca, Carolina fala muito – e rápido. No Twitter, coloca fotos dos filhos e mostra a intimidade para mais de um milhão de seguidores. Na praia, faz a alegria dos paparazzi e se deixa fotografar de biquíni. Quanto mais ela aparece, mais João Gilberto desaparece. Porém, há uma coisa que os conecta e identifica de forma categórica com o espírito de nosso tempo: a vida privada de ambos é tão empolgante, dramática e divertida quanto o ofício que realizam. E, se o roteiro de João Gilberto traz mistério e suspense, o cotidiano de Carolina Dieckmann é uma clássica novela das 9, cheia de empolgantes e irresistíveis clichês.

“Não estou aqui para agradar a todo mundo. Nem para agradar a alguém. Estou aqui para cuidar da minha vida”, ela comenta com calma notável quando nos encontramos em um dos camarins do Projac, centro de produções da Globo em Jacarepaguá, Rio de Janeiro. Sentada atrás de uma mesa redonda, Carolina usa um vestido preto e cutuca os restos de uma salada enquanto espera para gravar suas seis cenas daquele dia e anota os afazeres da próxima semana. O roteiro que tem em mãos é todo coloridinho, como se fosse rabiscado por uma estudante colegial. “O que quero para a minha vida é ter 50 milhões de pessoas assistindo à novela”, ela resume. “É isso que me motiva, e não alguém falar ‘Olha como ela é simpática’.” Logo de cara, Carolina também deixa claro que conversa sem problemas sobre qualquer assunto. “Não vou me defender. Eu não tenho uma necessidade de ficar ponderando as coisas. Sou uma pessoa easygoing. O repórter pode pegar uma coisa e editar do jeito dele. Mas eu não me conserto. Cada um tem a sua consciência, cada um faz o seu trabalho.”

Naquela mesma tarde do início de dezembro, Carolina havia chorado muito por causa do ex-marido, o ator Marcos Frota. Esta seria uma frase solta ideal para um texto de algum tabloide, em que o sensacional vale mais do que o contexto. Explicando: horas antes, Carolina havia assistido, na TV do carro, a um capítulo da reprise da novela Mulheres de Areia, de 1993. Na cena em questão, Tonho da Lua, personagem de Frota, se encontrava em um hospício. “Isso me inspira muito”, Carolina comenta sobre a atuação do ex – eles se separaram em 2003. “Que legal que é interpretar! Eu já vi essa novela uma vez, eu já fui casada com o cara. E eu tô acreditando no Tonho da Lua!” (ela ainda acrescenta que Davi, seu filho de 12 anos com Frota, é “idêntico ao pai”).

Sem demonstrar problemas com a exposição e falando opiniões íntimas com aparente franqueza, Carolina Dieckmann é a menina dos olhos da sempre atuante imprensa de celebridades. “Sou mó brother dos paparazzi. Eu respeito”, ela fala. Apesar disso, há algum tempo circula um boato – que a atriz obviamente desmente – que diz que Carolina teria jogado o carro em cima de um desses fotógrafos. “Tem gente que julga e fala que ‘são urubus que sobrevivem da carniça’. É a profissão do cara. Tirar foto de uma pessoa famosa não é errado. Você pode discutir que não está fazendo nada demais, que é invasão de privacidade...” Ela para e completa a frase com uma das palavras que mais utiliza: “Tá, amor, mas você tá na rua, você é famoso, trabalha na televisão, desculpa... Vem entubado”.

A palavra é “amor”. Sim, Carolina Dieckmann usa “amor” como uma interjeição.

"Amor, aos 11 anos, tudo começou de novo”, Carolina continua, se referindo agora ao episódio da infância em que construiu o seu arcabouço psicológico. Quando tinha essa idade, a casa no Rio em que ela vivia com os pais e os três irmãos pegou fogo. “Queimou tudo, tudo, tudo.” No dia seguinte após o incêndio, a menina não tinha nada, nem moradia, nem fotos da infância, nem uniforme para enfrentar a escola. Um curto-circuito no sistema de ar-condicionado (que o pai adorava) causou o acidente que forçou os Dieckmann a mudar de vida e de planos. Os pais, que estavam prestes a se divorciar, voltaram a viver juntos para reconstruir a história da família; e a única garotinha da casa teria a oportunidade de aprender outros valores. “O mais legal dessa história toda: muito cedo, a gente testemunhou que não temos nada. A gente tem pessoas. O resto vai e volta”, ela teoriza. “Essa lição explica totalmente a pessoa que eu sou hoje.” Apesar de falar com tranquilidade, o modo particular de se expressar – agitando as mãos com força – deixa as frases de Carolina com teor mais agressivo do que realmente são. Esse “jeitão” acaba assustando os pouco acostumados. “Eu tenho um jeito muito franco. Às vezes falo de um jeito forte, a entonação é urgente. Intensa. Gostaria de ser mais suave”, ela explica, mas sem se lamentar.


Além de descobrir sobre a fragilidade das coisas, as labaredas da infância também deixaram Carolina Dieckmann mais prática e tolerante. “Ter visto minha mãe e meu pai passar por aquilo com uma praticidade... Não teve choro, nem vela. Uma dose de uísque e ‘vamos embora. Não tem o que chorar. Acabou!’” Ela afirma que até hoje os mais próximos lhe perguntam onde ela esconde os medos, as frustrações e a tristeza. “Não paro minha vida para chorar”, diz, se adiantando a explicar que não é uma pessoa fria. Ao contrário, para desespero dos filhos (além de Davi, ela tem José, 4, filho do casamento com Tiago Worcman, diretor de TV), que morrem de vergonha, ela chora compulsivamente na plateia de cinemas e teatros. Porém, conforme ela garante, só desperdiça lágrimas pela arte.

No camarim, somos interrompidos pela presença de integrantes do elenco de Fina Estampa. Dalton Vigh, o Renê, aparece de roupão e conversa com Carolina sobre o destino incerto de Teodora. Ela diz não saber o que vai acontecer com a sua personagem – nem se de fato ela é mesmo má. “Eu amo fazer novela”, ela me diria mais tarde. Mais do que participar atrás das câmeras, Carolina é uma autêntica noveleira, dessas que transformam o gênero no principal produto de exportação da dramaturgia nacional. “Para mim, novela é uma obra de arte incontestável”, a atriz fala grosso. “Sou a maior defensora. A novela que a gente faz exige um ponto de reflexão várias vezes durante o dia, várias vezes durante o capítulo, várias vezes durante uma cena.” Com média de quase 39 pontos no ibope nas primeiras 15 semanas, Fina Estampa desponta como o maior sucesso da Globo nos últimos cinco anos, recuperando o prestígio perdido do horário.

Na novela da vida real, a história da personagem Carol começa em uma praia em Búzios, no litoral carioca. A cena: ela, aos 12 anos, jogando bola com os irmãos. Um sujeito se aproxima e comenta que a garota é linda e poderia ser modelo. Os moleques tiram sarro da irmã – que se achava horrorosa. Encucada com a proposta, mesmo sem jamais ter pensado na possibilidade, pede à mãe que a leve a uma agência indicada pelo homem da praia. A dona do lugar se encanta com a pré-adolescente, mas diz que a profissão é coisa séria, cheia de desafios etc. Foi um suave pé na bunda. Porém, Carol acaba indo até uma seleção de modelos para compreender, por pura curiosidade, como as coisas funcionam. Antes de ir embora, convencida de que não nasceu para aquilo, cai nas graças de um produtor e é contratada. Em um espaço de três meses, faz fotos; participa de uma imensa campanha para a Rádio Cidade (investiu o salário em um lanche do McDonald’s e no book de modelo); tenta esconder do pai a nova carreira (conseguiu, por pouco tempo); e é convidada pela Rede Globo para seu primeiro papel, a Claudinha da minissérie Sex Appeal. Fim do primeiro capítulo.

Aos 13, já contratada pela Globo, Carol ainda curtia a novidade, sem pensar seriamente na carreira de atriz. Ninguém desconfiava na época, mas Sex Appeal, de Antônio Calmon, estava prestes a causar uma pequena enchente de novas beldades na TV. Ali também estrearam Danielle Winits, Camila Pitanga e, ironicamente, Luana Piovani, que tem se tornado a sparring mais frequente de Carolina Dieckmann nos últimos meses. Tudo começou em outubro passado, quando, pelo Twitter, Luana comentou sobre a inadequação de Carolina para o papel de Teodora: “Avisem a tampa que gostosa tem que ter peito. Tá parecenu un tronquim [sic]”. Em dezembro, ao ver uma foto de Carolina ao lado de Ton Reis, o maquiador das fotos desta reportagem, a rival mandou mais um tapa virtual: “livrainos d tdomal amem [sic]”. A ofendida, por sua vez, afirma não entender o porquê de tais comentários.

Para desespero dos fãs de luta de mulheres, um duelo Dieckmann x Piovani não deverá acontecer tão cedo. Mas, se eu pudesse apostar, diria que minhas economias ficariam a salvo com Carolina. Após se trocar para gravar uma das cenas, ela reaparece usando um vestido listrado, curto, que realça as pernas duras e musculosas e libera os braços rijos. De “tronquinho”, não há nada: parece que estou diante de um avatar daquela versão mignon que despontou em Tropicaliente (1994) e Malhação (1995). “Para ficar desse tamanho, amor, você tem que comer. Estou comendo muito mais agora do que antes por causa da Teodora”, ela diz. O único exercício físico regular até o meio do ano passado foi o balé, mas para temporariamente ser “gostosa”, Carolina começou a fazer muay thai cinco vezes por semana. “Não gosto muito de ser musculosa. Mas esse é o corpo dela [Teodora]. Não tem graça ficar só do jeito que eu gosto.”

“Às vezes me acho bem bonita. Às vezes me acho bem feia”, ela diz, rindo, comentando sobre as poucas expectativas que tem em relação ao próprio corpo. “Às vezes você faz uma foto, todo mundo falando que você tá bonita... aí você já se acha linda. Tudo isso acaba em cinco segundos, na hora em que você tira a maquiagem e se deita na cama.” Mas se é possível se enganar durante algum tempo graças a certos artifícios, internamente, Carolina acredita que não precisa de maquiagem.


“Interiormente eu me acho muito bonita. Sou muito vaidosa interiormente. Perguntam receita de beleza. Eu respondo – e realmente acho: a alegria, a felicidade.” Atenta, ela percebe minha expressão de descrença: “É tão clichê isso, parece bobo. Às vezes, fico assim: ‘Será que essa pessoa tá achando uma loucura?’ Mas é o que acho de verdade. Quem me acha bonita deve ver alguma coisa além, dentro do meu olho”.

A vida de Carolina dieckmann começou a ser acompanhada para valer por milhares de olhos atentos em uma noite de setembro de 1997, quando Lillian Witte Fibe anunciou no Jornal Nacional: “Festa com estilo. Cercados de amigos famosos, os atores Marcos Frota e Carolina Dieckmann se casaram debaixo de uma lona de circo”. Tal qual uma página de revista de celebridades, a reportagem contava como os noivos reuniram cerca de 1.500 pessoas no Forte de Copacabana e foram abençoados com a cantoria de Djavan. “Alguém organizou, credenciou os jornalistas... Eu não me dei conta daquilo”, a atriz relembra. Na época, a história do ator viúvo, pai de três filhos, 23 anos mais velho do que a noiva, se casando com a jovem atriz de 19 anos virou atração nacional. Dez anos depois, Carolina foi para o altar novamente, desta vez com Tiago Worcman. Ao contrário da primeira vez, o evento não contou com o circo da imprensa porque medidas preventivas foram tomadas. Mesmo assim, imagens da cerimônia correram pela internet – um padrão atual em se tratando de celebridades televisivas. “Mas eu não sou uma celebridade”, ela retruca. “Talvez eu seja uma pessoa célebre. Acho que celebridade deixou de ser aquela palavra que está no dicionário, virou outra coisa. Tem pessoas que têm essa profissão. E essa não é minha profissão.” Talvez ela se refira a uma definição mais moderna de celebridade, que deixou de ser alguém reconhecido por alguma habilidade ou façanha para se tornar uma pessoa famosa simplesmente porque aparece na mídia. Como escreveu o escritor e historiador da cultura Neal Gabler, na sociedade do entretenimento “as celebridades se tornam modelos exemplares porque são elas que aprenderam como roubar a cena, independentemente do que tiveram de fazer para roubá-la”. Ainda que questione os rótulos, Carolina diz que pouco se esforça para que não saibam de sua vida particular. “Volta e meia coloco fotos no Instagram porque acho fofas”, ela explica sobre sua rotina no Twitter, em que já publicou quase dois mil tuítes e centenas de fotografias. “Meu pensamento é sobre aquelas energias que a gente nutre. Se vejo uma foto que tirei do meu filho, às vezes no meu momento íntimo, que acho fofa, que acho que vai gerar um pensamento bom nas pessoas ou um sorriso... Eu não fico pensando ‘vou postar uma foto do meu filho’. Não tenho esse pensamento tão editado. Sou uma pessoa espontânea.”

A relação com a maternidade e o jeito “direto ao ponto” levaram Carolina ao grande papel de sua vida. Após terminar o colegial, ela resolveu não seguir um curso superior. Continuou na Globo até que precisou gravar uma cena para a novela Por Amor (1997), em que anunciava a gravidez de sua personagem. Não conseguiu: Carolina havia perdido um bebê na vida real. O autor Manoel Carlos enviou uma carta tranquilizando a atriz, prometendo em breve escrever uma novela para ela. Dois anos depois, já mãe do primeiro filho, Carolina interpretou a Camila em Laços de Família. “Ali tive que decidir: ou vai ou racha. Se não fosse essa novela, não sei se eu seria atriz.” De vilã da história, Camila se tornou um símbolo de superação. “Eu sei que provavelmente não farei uma cena tão marcante quanto essa. É maior do que eu”, ela se refere à sequência de três minutos em que sua personagem corta os cabelos por causa da leucemia. Exibida em 11 de dezembro de 2000, o capítulo rendeu o maior ibope da Globo naquele ano – cerca de 79% dos televisores ligados do Brasil transmitiram a imagem de Carolina Dieckmann de cabeça recém-raspada. A força da novela acabou gerando o súbito aumento no número de doadores de medula óssea no país, originando o que foi batizado de “Efeito Camila”. “Se pensar em cinco cenas da TV brasileira, eu, Carolina, como telespectadora, colocaria essas”, ela enumera. “A Gabriela no telhado; a morte da Odete Roitman; Fernanda Montenegro e Paulo Autran jogando coisas um no outro em Guerra dos Sexos; e a Camila vem ali...”

Já vestida como faxineira de hotel, Carolina interrompe a conversa para gravar cenas na sua nova realidade. Dentro do estúdio, ela se posiciona no cenário, sugere mudanças de planos e só altera o texto se perceber alguma falha. Teodora é uma loiríssima abusada, que não se conforma em comer mortadela depois de quase ter arrotado peru. Nos bastidores, a atriz cumprimenta a todos e é tratada com carinho pela equipe da Globo. “Trabalho aqui desde que tenho 13 anos. Amo esta emissora. Não tenho vergonha de falar isso.”

Mas o clima de lua-de-mel com o público terminou em 2005 para Carolina Dieckmann. Depois de Laços de Família, ela participou de As Filhas da Mãe, Mulheres Apaixonadas, Da Cor do Pecado e Senhora do Destino. E, quando resolveu processar o programa Pânico na TV, começou a estrelar, para alguns, a fictícia novela A Chatinha da Globo. “Entrei de sola. E entraria de novo. Na minha casa, com meus filhos, não brinca, e ponto final. Quer brincar comigo, me chamar de chata, de antipática, de piranha, tô nem aí. Mas, com meu filho, ninguém brinca.” Ela rapidamente remonta o ocorrido: Carolina era perseguida pelos humoristas Vesgo e Ceará, que pretendiam fazer a atriz participar do quadro “Sandálias da Humildade”, que consistia em fazer uma personalidade arredia “calçar” a modéstia. Na época, a Globo proibia seus funcionários de dar entrevistas a outros canais, ainda mais para um programa da linha de shows e não jornalístico. Então, para Carolina, o Pânico passou dos limites quando levou um guindaste para a frente do prédio onde ela mora. “Subiram no guindaste e falaram: ‘Vamos chamar ela de que para ela aparecer na janela?’”, ela conta, imitando uma multidão: “Vaca, vaca! Piranha, piranha!” Seu primeiro pensamento foi proteger o filho que voltava da escola – Carolina não queria que o menino presenciasse uma centena de pessoas xingando a mãe. Um vizinho chamou a polícia e os humoristas foram prestar esclarecimentos na delegacia. Carolina processou o programa e ganhou. Na época, pagaram uma multa de R$ 50 mil (doada posteriormente a uma instituição) e até hoje o Pânico na TV é proibido de citar o nome da atriz. Na sentença, o juiz mencionou que não há lei que obrigue alguém a ser simpático.


“Faria tudo de novo”, ela admite. “Eu sei que pago um preço e estou disposta a pagar. E pago muito mais do que as pessoas acham.” A plateia assistiu a tudo e, como em uma novela, teve que escolher por quem torcer. Ao se negar a participar de uma suposta brincadeira de um dos programas mais populares da TV, Carolina comprou uma briga que até hoje reverbera em seu cotidiano. “Eu poderia ter virado uma pessoa amargurada. Poderia ter ficado revoltada. Pelo contrário. As pessoas me chamam de antipática? Vou ser mais humilde do que eu era. Vou ser mais legal do que eu era, mais simpática com cada um.” E afirma não guardar mágoas, pois sabe como é conviver com uma casa em cinzas. “Sinceramente? Não tenho raiva dos caras. Já encontrei com eles, falam comigo, falo com eles. Foi uma brincadeira infeliz, não concordo até hoje, já falei para eles. Uma infelicidade. Mas tá tudo certo.”

Por uma piada do acaso, Carolina interpretou uma vilã em sua novela seguinte – a calculista Leona, em Cobras e Lagartos. E mais uma vez, o fogo colocou o ponto final na questão: em uma dessas improváveis misturas entre vida real e ficção, Leona morreu durante um incêndio no capítulo final. “Acho muito pesado fazer vilão. Você fala coisas ruins. Eu acredito muito na energia do bem, principalmente”, diz, apontando preocupação com as vilanias de mentirinha. “Quando eu fiz a Leona, o Tiago queria muito ter filho. Eu falei: ‘Não dá para parir uma criança nesta situação em que eu estou fazendo maldades por todos os lados. Vamos esperar a novela acabar e aí a gente faz’.” O casal acabou gerando José em um sábado, dia da reprise do último capítulo de Cobras e Lagartos.

A relação de Carolina com o atual marido continua a ser alvo da imprensa de celebridades. Ainda mais quando Teodora aparece em cenas fogosas com Quinzé (Malvino Salvador). “Nesse meu jeito espontâneo, acabo dizendo que se o Tiago vir a cena, ele tem que ter ciúme”, ela afirma, já de volta ao vestido preto e cobrindo as pernas de Teodora. “Porque se não tiver, tem alguma coisa errada. É o natural. Porque se não, ele está anestesiado, é uma barata, não está sentindo mais nada.”

São 21h e carolina dieckmann está pronta para deixar o Projac. O ritmo de gravações é intenso, frequentemente durando de segunda a sábado, não deixando tempo para outros trabalhos. Depois de Leona e antes de Teodora, a atriz figurou em Três Irmãs e Passione e nos filmes Onde Andará Dulce Veiga? e Sexo com Amor?. Para o futuro, não há planejamento. “Tenho pânico de ficar pensando no futuro. Não perco muito tempo com isso”, diz.

Carolina confessa que há um bem material que gostaria muito de ter: “Talvez o grande sonho da minha vida seja morar em uma casa”. Ainda no mesmo tema, ela afirma que se não fosse atriz, tentaria a arquitetura. “Até acho que vou fazer um dia. Queria que o Davi fosse arquiteto”, ela diz, rindo discretamente. Comento sobre o quanto isso pode ser um reflexo do incêndio na casa da infância, e que, já que ela não faz terapia, entrevistas longas como esta acabam se tornando uma espécie de sessão de análise em praça pública. Ela fica mais quieta. Novamente, penso em João Gilberto, em como tanto o silêncio quanto o barulho alimentam os ruídos da fama. Ao aparecer diariamente em várias mídias e acompanhar pessoas contando suas próprias histórias sobre ela mesma, será que Carolina Dieckmann sabe de fato quem ela é?

“Sou segura de quem eu sou. Eu não culpo as pessoas que falam mal de mim. Não tenho raiva das pessoas que falam mal de mim, porque está explícito na minha história o que gerou isso, que foi a história do Pânico”, ela comenta, antes de terminarmos a sessão. “Eu não sei se um dia vou me curar desse mal. Realmente, não sei. Isso não atrapalhou a minha existência. Talvez tenha atrapalhado a minha fama. Me melhorou como pessoa. O que não me mata, me fortalece. Acho que sou uma pessoa mais forte do que eu era.”