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Macaco Bong

Os pedreiros do rock

Mateus Potumati Publicado em 01/08/2007, às 16h04 - Atualizado em 11/09/2007, às 11h37

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Macaco Bong: conceituais e simples - Renato Reis/Divulgação
Macaco Bong: conceituais e simples - Renato Reis/Divulgação

Há pouco mais de um ano, o Macaco Bong ganhou os festivais brasileiros. Só em 2006, estiveram em 11, feito notável, especialmente por se tratar de uma banda interiorana de rock instrumental, formada por jovens recém-chegados aos 20 anos. O trio também conquistou espaço na mídia, invadindo de blogs a veículos de imprensa influentes do eixo Rio-SP. Ainda que entusiasmados, os relatos raramente vão além de generalidades: ora a banda "mistura jazz com rock", ora é "vigorosa" e "inclassificável".

Vale esclarecer que o som dos mato-grossenses não é tão alienígena assim. Boa parte das harmonias vem do grunge, flertando com o hard rock e o progressivo à moda das bandas mais pop daquele movimento. Quando a guitarra de Bruno Kayapy ensaia vôos mais etéreos, a bateria traz o som de novo ao chão, evitando que flutue demais pelo pós-rock de Mogwai ou Slint. As influências de jazz ficam restritas a arpejos e solos que ecoam Pat Metheny e John Scofield. O Macaco Bong é conceitualmente simples, apostando em grooves estendidos de bateria e baixo por trás da guitarra, que faz as vezes do vocal. Nos momentos mais inspirados, soa como moleques que ouviram Jimi Hendrix e Living Colour e sem querer tropeçaram no Fugazi.

Mas é nessa simplicidade inocente que o trio mostra qualidade, com um talento admirável de transitar por domínios "proibidos" sem se sujar nem perder o frescor. Ela garante pérolas como "Black's Fuck" e "Bananas for You All", tão sinceras que parecem possíveis apenas nos rincões do Brasil. Os macacos têm ainda outro trunfo: fruto e agentes de um coletivo original, eficiente e tipicamente brasileiro - o Espaço Cubo, de Cuiabá - eles levam o conceito de "instrumental" ao pé da letra. "Não somos artistas. Somos pedreiros fora do eixo. A música é só mais uma das ferramentas de um trabalho maior", explica Bruno Kayapy.

Esse desprendimento é comum na retórica indie, mas raramente tem resultados reais. No caso deles, é algo vivido com engajamento espartano. Diariamente, produzem e gravam bandas, são técnicos de som, instrutores e coordenadores de eventos. São pagos em "cubo cards", sistema de crédito engenhoso que remunera serviços com serviços. "O Espaço Cubo trabalha pela autogestão do músico. Isso faz toda a diferença, tanto que entramos na rota dos festivais", conta o guitarrista. Inspirados na tecnologia de código aberto, aos poucos o coletivo cria uma rede de compartilhamento inédita no país. "O importante é trocar tecnologia de trabalho. Quando vamos a um festival, não vamos só tocar. Trabalhamos como roadies, técnicos de som, participamos de mesas-redondas."

Com o trabalho estruturado, este ano o Macaco Bong deve gravar o primeiro disco. O processo começou no final de 2006, quando gravaram cinco faixas no estúdio de Duda Machado, baterista da Pitty. As faixas já estão no site da banda. Cientes do trabalho duro que têm pela frente, os pedreiros não param.