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Lobão: “É muita tirania ter que corresponder a milhões de expectativas que os outros criam em cima de sua pessoa e seu trabalho”

No livro Guia Politicamente Incorreto dos Anos 80 pelo Rock, cantor relembra de forma crítica e escrachada a música dos anos 1980

Paulo Cavalcanti Publicado em 24/08/2017, às 19h27 - Atualizado às 19h41

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<b>Sempre Rosnando</b><br>
Lobão fala dos altos e baixos da década de 1980
 - Anatole Klapouch / Divulgação
<b>Sempre Rosnando</b><br> Lobão fala dos altos e baixos da década de 1980 - Anatole Klapouch / Divulgação

A nova empreitada do cantor e compositor Lobão é o livro Guia Politicamente Incorreto dos Anos 80 pelo Rock. Trata-se de mais um título da popular série da Editora LeYa. Neste passeio nostálgico, polêmico e bem pessoal pelo período em que despontou, Lobão se coloca como “sócio fundador” do rock brasileiro da década de 1980, assumindo posição para dissecar a produção musical dele e de seus contemporâneos – como o título do livro indica, nem sempre de maneira amistosa.

Logo no começo do livro, você parte para a gozação, falando que a década de 1980 foi cafona e ficou marcada por coisas como He-Man, Show da Xuxa e roupas ridículas. Você acha que a percepção das pessoas mudou de uma forma positiva em relação àquele tempo?

Tudo relativo a cada década que passa cai imediatamente no ostracismo, mas no caso dos anos 1980, o tempo passou e virou esse negócio nostálgico, como essas festas trash 80s. As pessoas tratam como se fossem coisas feitas pelo Shakespeare! Virou vintage, clássico... Veja bem, muito antes do livro, eu já detonava todo aquele estilo de produção e metodologia. O problema é que as gravadoras e os produtores queriam que nós fôssemos uma espécie de nova Jovem Guarda. Não tínhamos orçamento decente para gravar. Queriam nos impor repertório feito por compositores profissionais. Em comparação ao esmero musical dos anos 1970, a época em que eu me formei musicalmente, o que veio em seguida era muito precário.

Mesmo com as conhecidas restrições que você tem a respeito da produção daquele tempo, qual é a sua percepção agora, depois de concluir o livro?

Enquanto eu ia escrevendo, ia ouvindo os discos dos outros artistas da época. Naquela década, eu nunca tinha parado para prestar a devida atenção neles. Comecei a gostar e a fazer as pazes com esse passado musical. Ainda acho que os discos eram mal gravados, mas a década de 1980 teve grandes canções.

Hoje, como você vê os seus álbuns Cena de Cinema (1982), Ronaldo Foi pra Guerra (1984) e Vida Bandida (1987)?

Vejo que eu era um náufrago. Estava operando no meu potencial mínimo. Foi somente mais tarde que as coisas começaram a melhorar. Agora, depois de ouvir esses discos novamente, vejo que todos eles trazem boas ideias, têm boas canções. Mas o som em si era uma merda, como tudo o que era feito na época. Eu queria fazer um monte de coisas diferentes, mas não conseguia concretizar.

O livro termina de um jeito meio melancólico, com você narrando o fim da euforia da década de 1980 e os anos 1990 se iniciando com o governo de Fernando Collor de Mello. E nisso a música sertaneja e o axé começaram a tomar conta do panorama.

Na verdade, eu fiquei feliz com o fim de tudo aquilo. Eu me afastei de tudo, fui estudar, aprender a escrever letras. Estudei violão clássico, aprendendo a tocar Bach e música flamenca. Foi a partir daí que comecei a ficar independente e passei a virar as costas para gravadoras, rádios e para o grande público. Gravei Nostalgia da Modernidade (1995), que foi um marco. Fui crescendo artisticamente. É muita tirania ter que corresponder a milhões de expectativas que os outros criam em cima de sua pessoa e seu trabalho.

O seu próximo projeto, baseado no livro, é um disco e um show de releituras dos hits dos anos 1980. Como isso se encaixa na sua obra?

É mais um ritual de paz em relação à minha geração. Já estou fazendo de forma independente e me apoiando em uma campanha de crowdfunding. Se der tudo certo, deve ficar pronto antes do Natal. Terá uma parceria inédita minha com o Cazuza, uma música chamada “Seda”. Pretendo também gravar “Virgem”, da minha madrinha Marina Lima, e canções do Ritchie, Ira! e Lulu Santos. Finalmente essas canções terão um acabamento sonoro que faz justiça às melodias. Já o show será dividido em duas partes, a primeira com essas releituras e a outra somente com canções minhas da década de 1980.