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Lobão contra o mundo: “Do fundo do coração, eu seria incapaz de matar uma mosca”

Na capa da edição de maio da Rolling Stone Brasil, músico estende as críticas feitas em seu novo livro, mas defende “a convivência gentil” com aqueles de quem discorda

Tiago Agostini Publicado em 06/05/2013, às 12h35 - Atualizado em 23/05/2013, às 17h57

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Lobão em uma das capas de maio da <i>Rolling Stone Brasil</i>
Lobão em uma das capas de maio da <i>Rolling Stone Brasil</i>

Em determinado momento do livro Manifesto do Nada na Terra do Nunca, Lobão lista uma série de características pelas quais costuma ser conhecido pela opinião pública: drogado, matricida, roqueiro. “É um absurdo. Uso eles a meu favor, para que as pessoas saibam que vão lidar com um roqueiro e tragam argumentos mais fortes”, ele diz, sentado no pequeno jardim atrás da casa dele, no bairro de Perdizes, zona oeste de São Paulo. Partindo da ideia de confrontar a Semana de Arte Moderna de 22, o cantor pariu um livro no qual atira farpas para todos os lados. Do Lollapalooza (ele se retirou da primeira edição brasileira do festival depois de descobrir que tocaria cedo demais) até a presidente Dilma Rousseff (de quem propõe um assassinato metafórico), passando pela MPB, a tropicália, Gilberto Gil, ninguém escapa ileso ao bombardeio de opiniões de Lobão. “Sou a voz da maioria silenciosa”, ele garante, tomando para si a posição de opositor das unanimidades.

Clique na galeria acima para ver mais fotos de Lobão.

"As polêmicas são causadas pela incapacidade de compreensão das pessoas. Acho meus pensamentos muito claros, muito nítidos e muito honestos", afirma Lobão, sabendo que as palavras lançadas no livro não passam despercebidas. "Tem gente que não entende o que estou falando e antes de tudo vai me linchar. Agora é da maratona para o corredor polonês. Se as pessoas lerem, já fico satisfeito, mas o pior é que vai ter muita gente que não vai ler e vai criticar", acredita. "Mas acho que quem ler vai se divertir muito, porque o tom do livro é a convivência gentil com aqueles de quem eu discordo. Agora, você impedir a voz da pessoa, querer aniquilar a reputação é uma coisa terrível, e isso já é também manancial para outro trabalho, mergulhar numa ditadura de comportamento em que as pessoas acham que a verdade desse grupo é superior e única. É uma coisa q me deixa muito incomodado."

Na entrevista de capa da Rolling Stone Brasil de maio, nas bancas a partir do dia 10, Lobão vai além do livro, que já tem sido motivo de debates. Ele fala sobre ter recusado fazer parte do line-up do Lollapalooza 2012 ("A gente tem que demandar qualidade. Eu sei que meu show se garante, em qualquer hora de qualquer festival do mundo, porque eu trabalhei para isso") e de um dia ter gostado de Los Hermanos, embora tenha se decepcionado com a carreira solo de Marcelo Camelo ("Vi um show do Camelo descalço com um trono, sem bis. Aí é o fim, o cara está viajando. E o pior, está tirando a pobre Mallu, que era uma menina legal. É um estupro cultural").

Caetano Veloso, de quem há tempos é desafeto, obviamente também não escapou. "A música 'Lobão tem Razão' [do álbum zii e zie, de Caetano]. O Lobão tem razão do quê, caralho? Eu dou um esporro nele e ele vem com 'Lobão tem Razão' oito anos depois? Vai ser bunda mole assim na esquina. E as pessoas ficam enchendo a bola daquela figura lamentável." Ele continua, agora falando sobre a parceria de Caetano com músicos da nova geração, como a Banda Cê, com quem ele gravou seus três últimos discos. "Está vampirizando a juventude dos outros, que dá uma 'mudérnidade' no som. Nem se ele tivesse o Black Sabbath com ele ia convencer, ele toca com nojinho. O Chico pelo menos é um equivocado definido, ele é comunista, eu acho uma merda. Mas e o Caetano? Faz uma música como 'Os Comunistas', a galera adora, mas não tem nada que signifique uma tomada de posição na letra. Aí faz 'A Bossa Nova é Foda', começa a falar palavrão, quer soar moderninho. É um estelionato intelectual você ouvir o Caetano fazer rock. Ele sempre falou mal do rock, sentou no colo do Alexandre Pires, subscreveu intelectualmente o axé. Quem gravou um disco com a Ivete? Caetano e Gil. E agora vem tirar uma onda de roqueiro? Eu seria o primeiro a aplaudir se ele tivesse talento para fazer o que ele não consegue."

Na Entrevista RS, o músico aproveita para explicar o título de um dos capítulos de seu livro, "Vamos Assassinar a Presidenta da República?". "Se pode sequestrar e torturar pessoas e agora se colocar como herói [em referência ao passado de luta armada de Dilma Rousseff], eu também posso criar um grupo e dizer que sou um herói libertário. A história do assassinato é uma explanação hipotética. É uma provocação? Claro que sim, mas só consigo me estender na provocação à medida que eles me dão o argumento falho, assimétrico, para que eu proponha uma situação perigosíssima, mas imune judicialmente, porque meu vocabulário foi cuidadoso. E, do fundo do coração, eu seria incapaz de matar uma mosca, uma barata, uma Dilma."

Assista abaixo ao making of da sessão de fotos com Lobão:

A edição de maio da Rolling Stone Brasil tem duas capas. Você conhecerá a segunda delas nesta terça, 7. Ambas estarão nas bancas a partir do dia 10.