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A Garota dos Sons

A vida da pioneira DJ e radialista Sonia Abreu ganha livro repleto de histórias marcantes

Paulo Cavalcanti Publicado em 15/01/2018, às 11h41

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<b>Sempre Ativa</b><br>
Sonia, na década de 1970, mostrando o LP <i>Singin’ Alone</i>, de Arnaldo Baptista, ex-membro da banda Os Mutantes
 - Divulgação
<b>Sempre Ativa</b><br> Sonia, na década de 1970, mostrando o LP <i>Singin’ Alone</i>, de Arnaldo Baptista, ex-membro da banda Os Mutantes - Divulgação

Mesmo sendo uma figura conhecida, muito do que Sonia Abreu realizou em mais de 50 anos de atuação artística nem sempre é divulgado ou conhecido pelo grande público. Ela lançou inúmeras canções, divulgou vários artistas e antecipou tendências. Como DJ, radialista, produtora, cantora, programadora musical e muito mais, foi uma pioneira e inovadora. A maioria das pessoas ainda identifica Sonia na função de DJ. Neste mês em que completa 66 anos de idade, ela ainda tem mais motivo para celebrar, com o lançamento do livro Ondas Tropicais (Matrix), escrito por Claudia Assef e Alexandre de Melo. A obra é como a vida de Sonia: variada, cheia de humanidade, com momentos hilariantes ao lado do mais alto drama. E com a música pontuando toda a ação. Segundo ela, o livro chegou na hora certa. “A Claudia vivia me entrevistando para diversas matérias que ela fazia”, conta Sonia. “Há cerca de três ou quatro anos, a ideia surgiu. Agora saiu. Gostei muito, acho que ficou redondinho. A obra nos leva aos anos 1960, nos tempos da Jovem Guarda, quando Sonia era uma adolescente de 13 anos. Ela era cantora de uma banda chamada Hapiness, que teve um hit com “See You in September”, cover de um sucesso dos norte-americanos The Happenings. Aos 17 anos, já tomava conta da programação na rádio Excelsior de São Paulo. “Naquela época, as rádios roqueiras eram raras”, fala. Ela colocava na programação Pink Floyd, Os Mutantes e muito mais. Na época, só a Excelsior e a Difusora tocavam esse material mais progressivo. Isso quando ainda operavam na frequência da rádio AM; a FM era algo praticamente inexistente.

Como a Excelsior fazia parte das organizações Globo, Sonia conectou-se à gravadora Som Livre. Ela então tornou-se uma das responsáveis pela seleção musical dos LPs da série A Máquina do Som. Esses discos marcaram época e embalaram incontáveis festas durante a década de 1970. Naqueles tempos pré-comunicação instantânea, Sonia corria o mundo atrás das novidades. “Eu viajava para Londres, ia para o Midem (feira da indústria musical em Cannes, França). Trazia muita coisa de soul, funk, material legal que a gente licenciava para lançar aqui.”

Paralelamente, a jovem Sonia Abreu também era DJ nas boates mais badaladas de São Paulo. Ela agitava na cabine de som da Mirage, da Cave e outras casas noturnas. Claro, nem sempre era fácil, como ela conta. “Sim, havia preconceito por eu ser mulher e trabalhar na noite, eu era chamada de vagabunda e coisa pior.” Mas ela tirava tudo isso de letra. Ainda nos anos 1970, Sonia colocou muita gente para dançar disco music na noite paulistana quando foi uma das DJs da Papagaio Disco Club.

Um dia, Sonia se cansou de ficar cercada pelas paredes e saiu às ruas com uma rádio itinerante, que ela intitulou Ondas Tropicais. Ela, que sempre foi uma figura importante nos bastidores, agora era reconhecida por um público maior. Em diversos locais de São Paulo, era vista (e ouvida) com sua Kombi, sempre trazendo boa música e vibrações positivas. “Foi uma época muito legal, eu levava diversidade sonora para as pessoas. Tenho saudades daqueles tempos em que eu fazia a festa em locais como a Praça do Pôr do Sol, na capital paulista.” A boa notícia é que Sonia adianta que existe a possibilidade de ela retomar o projeto. Mas sem nostalgia: “Em tudo o que faço, sempre olho para a frente”, conclui.