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Chorão realiza desejo e mostra como a música pode ter começo, mas não ter fim

Redação Publicado em 07/11/2007, às 14h39 - Atualizado em 08/11/2007, às 16h17

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Ritmo, Ritual e Responsa - Charlie Brown Jr.
Ritmo, Ritual e Responsa - Charlie Brown Jr.

Charlie Brown Jr.

Várias são as razões para existirem poucos álbuns com muitas faixas. Elas vão desde a falta de repertório até a desculpa esfarrapada de que aumenta a probabilidade de erros digitais no CD e dificulta sua leitura. Há até motivos de ordem contratual, que envolvem direitos autorais e seus pagamentos. Talvez porque ele já tenha se sentido lesado em comprar álbuns curtos como EPs, Chorão sempre teve a gana de lotar a capacidade de um disco. Numa noite no início de 1999, saindo do trabalho, encontro o vocalista do Charlie Brown Jr. sentado na sarjeta. Com os olhos cheios d'água e a raiva estampada no rosto, ele revela que a gravadora havia tosado meia dúzia de faixas do álbum que estava para sair. Era Preço Curto... Prazo Longo, segundo na carreira do grupo. O álbum saiu sem as músicas, mas o sucesso não teria sido diferente se a vontade dele tivesse sido feita. Passados alguns anos e milhões de discos vendidos, Charlie Brown Jr. lança Ritmo, Ritual e Responsa, seu nono disco (o segundo com a atual formação). O trabalho leva o subtítulo "A Música Tem Começo, mas Não Tem Fim" e isso cabe perfeitamente aqui - tem 23 faixas, num total de quase 1h23min. Demorou, mas a vontade foi satisfeita.

O cartão de apresentação do novo álbum foi "Não Viva em Vão", hardcore melódico em alta velocidade, com a ótima guitarra de Thiago Castanho. A faixa foi a primeira a freqüentar a programação das rádios e seu videoclipe traz a participação dos skatistas Bob Burnquist e Mineiro. "Se viver requer coragem, então viva para ser feliz e não viva em vão", canta Chorão. Não carece ouvir o disco inteiro para sacar que todas as bandeiras que o Charlie Brown Jr. levanta estão ali: o enfrentamento de situações difíceis, o pensamento positivo e, é claro, o skate como força libertadora. Isso ficou mais expresso, e cada vez mais previsível, desde o álbum 100% Charlie Brown, de 2001. Chorão deixou um pouco de lado as pueris baladas de amor e passou a usar sua velha fórmula 100% à risca. O rezado continua com a segunda faixa, conhecida antes do lançamento do álbum, "Pontes Indestrutíveis". Seu videoclipe com descoladas técnicas de animação está disponível no site oficial do grupo.

O rodeio em torno dos mesmos temas pode ter uma segunda explicação. Ritmo, Ritual e Responsa é tido como parte da trilha sonora de O Magnata, filme que faz a estréia de Chorão no cinema. Ele é o autor do roteiro original e sua banda participa de cenas do filme. Daí surgem faixas irmãs, como "Beco sem Saída" (um recado aos amigos do passado) e "Paranormal", que começa no reggae e descamba para uma linguagem comum das pistas. Na maioria das vezes é o protesto que comanda as letras, acompanhado por participações especiais. "Vida de Magnata" é quase inteira na voz de João Gordo, um prato cheio para o vocalista dos Ratos de Porão. Chorão e MV Bill fazem uma ponte musical entre Santos e a Cidade de Deus e juntos entoam o rap revoltado de "Sem Medo da Escuridão". Marco, do grupo Lobotomia, também fica bem à vontade no vocal thrash de "Que Espécie de Vermes São Vocês?".

Frases de auto-ajuda transformadas em palavras de ordem na ladainha poética de Chorão brotam a todo instante em Ritmo, Ritual e Responsa e são endereçadas à molecada, muitas vezes parca de segurança e informação. Sinceros ou não, se "só o amor constrói pontes indestrutíveis" e versos afins virarem regra de conduta de seu público, pelo menos no quesito moral ninguém vai ter do que reclamar. O novo álbum não traz a maturidade de uma banda com mais de 15 anos, mas não se deve esperar isso do Charlie Brown Jr. Bom seria até evitar. Bandas ditas maduras não fazem um som assim.

Por José Julio do Espirito Santo

Charlie Brown Jr.

Ritmo, Ritual e Responsa

EMI

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2007